UNICAMP 1991 Português - Questões
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Dados recentemente divulgados nos principais órgão de imprensa do país revelam descaso com que a sociedade brasileira vem tratando a questão do menor.
Selecione, da coletânea abaixo, as informações e argumentos que, do seu ponto de vista, sejam relevantes para a elaboração de uma dissertação sobre o tema:
"Criança! não verás nenhum país como este!"
Redija, em seguida, sua dissertação. Em seu texto você deverá expor e comentar, de forma coerente, alguns dos aspectos envolvidos no tema proposto. Você poderá utilizar, também, outras informações que julgar pertinentes.
Texto I
É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
(Constituição da República Federativa do Brasil. Art. 277)
O direito à proteção especial abrangerá os seguintes aspectos:
I - Idade mínima de 14 anos para admissão de trabalho, observado o exposto no art. 7º, XXXIII;
(...)
III - garantia de acesso do trabalhador adolescente à escola.
(Idem, Art. 227, Parágrafo 3º)
Texto II
O fato é que o Brasil ostenta níveis de pobreza e concentração de renda que o projetam para baixo países indigentes da África ou América Latina. Aí desponta a mortalidade infantil: morrem por ano, no Brasil, cerca de 300 mil crianças de zero a um ano, por falta de condições de vida razoáveis, segundo dados oficiais. Isto significa aproximadamente a tragédia de duas bombas de Hiroxima.
(Gilberto Dimenstein, Folha de São Paulo. 13.10.90)
Texto III
Há dez anos, o Brasil tinha uma população de 22,6 milhões de jovens entre 10 e 17 anos, conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, IBGE. Desse contingente, apenas 3 milhões trabalhavam nas regiões urbanas. Hoje, com cerca de 25 milhões de adolescentes no país, 4,5 milhões trabalham nas cidades. Ou seja: a mão de obra urbana jovem cresceu cerca de 50% na última década, enquanto a população adolescente total aumentou apenas 1 décimo. Nos países europeus e nos Estados Unidos, adolescentes só trabalham a partir de uma determinada idade. Até 15 anos, nos EUA, não se é apresentado a um relógio de ponto - estuda-se. Na França, até os 16 também não se vai para o emprego de manhã como (...) 2,9 milhões de brasileiros que estão no batente com idades entre 10 e 14 anos. Muitos deles não conseguem estudar ou tropeçam de reprovação em reprovação até desistir da escola.
(Revista VEJA, ano 23, n 43, 31.10.90)
Texto IV
A prostituição infantil cresce no Brasil e já atinge 500 mil meninas envolvidas cada vez mais com drogas. (...) Esse número expressa, com base em estimativa sobre a população brasileira em 1989 (147,4 milhões), a existência de uma menor prostituta entre cada 300 habitantes. (...) Haveria 800 mil meninas de rua, também suscetíveis, pela necessidade de sobrevivência, de entrar na prostituição.
(Folha de São Paulo, 25.10.90, comentando dados do Centro Brasileiro para a Infância e Adolescência, ligado ao Ministério da Ação Social)
Texto V
Oficialmente, o governo lança campanhas em defesa da criança, de caráter paliativo, chegando a reunir um inexplicável ministério mirim. Enquanto isso, crianças e adolescentes são torturados e assassinados, quando simplesmente não morrem de fome ou por doenças.
(J.M.P.C. da Rocha, em carta publicada no Painel do Leitor, Folha de São Paulo, 4.11.90).
Texto VI
Ama, com fé e orgulho, a terra em nasceste!
Criança! não verás nenhum país como este!
(Olavo Bilac, "A Pátria", Poesias Infantis.)
De que é feito um texto? Fragmentos originais, montagens singulares, referências, acidentes, reminiscências, empréstimos voluntários. De que é feita uma pessoa? Migalhas de identificação, imagens incorporadas traços de caráter assimilados, tudo (se é que dizer assim) formando uma ficção que se chama o eu.
(Michel Schneider, Ladrões de Palavras). Campinas, Editora da Unicamp, 1990.)
Como você pode ver, essa citação propõe uma analogia entre a construção de um texto e a "construção" de uma pessoa. Dando seguimento à analogia, faça de conta que você é um escritor de ficção e, utilizando-se de um dos fragmentos oferecidos abaixo, elabore uma narrativa em terceira pessoa. Você deverá atribuir a ela um título.
I. X. e Y. são duas amigas que se esforçam para dividir o que têm de melhor; na infância, repartem um ursinho de pelúcia. X. tornasse uma escritora de um único livro que, embora aclamado pela crítica, não se torna um best-seller. Y. torna-se escritora por acaso e seu livro virabest-seller num piscar de olhos. Aí é que a relação das duas começa a esquentar. Ainda mais que o bonitão J. que elas também tentam dividir...
II. Um astronauta, de volta à Terra depois de uma desastrosa missão entre anéis de Saturno, começa a derreter. Enlouquecido, foge da quarentena da NASA e ataca pessoas nos campos, criancinhas brincando, um fotógrafo porno e sua modelo recalcitrante, um casal de velhinhos...
Como você deve saber, o novo Congresso, eleito no dia 3 de outubro, deverá rever a Constituição promulgada em 1988. Um aspecto que certamente merecerá a atenção dos congressistas e o da obrigatoriedade do voto, uma vez que foi extraordinariamente alto o índice de votos em branco e nulos nas últimas eleições.
Tomando como base as informações e opiniões contidas na coletânea abaixo, escreva uma carta a um congressista argumentando contra ou a favor de representante do povo, defenda essa posição em plenário.
Texto 1
1. O alistamento eleitoral e o voto são:
I - obrigatórios para maiores de dezoito anos;
II - facultativos para:
a) os analfabetos;
b) os maiores de setenta anos;
c) os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos.
(Constituição da República Federativa do Brasil, Art. 14, Parágrafo 1º)
Texto 2
O voto em branco é uma manifestação mais que perfeita do eleitor que foi votar apenas para cumprir a obrigação e evitar as penalidades que a lei impõe. Já nos casos dos nulos, seria preciso distinguir quem realmente não sabe votar e quem quis, por expressões e rabiscos, se rebelas contra o processo eleitoral. (...) Mas continuo defendendo o voto obrigatório até como fator de educação cívica. O número de eleitores seria muito pequeno se o voto fosse facultativo.
(Aristides Junqueira, procurador-geral da República, em entrevista publicada no jornal O Estado de São Paulo, 21.10.90)
Texto 3
O deputado reeleito Roberto Cardoso Alves (PTB-SP) criticou o também reeleito Maurílio Ferreira Lima (PMDB-PE) pela proposta de emenda constitucional que torna o voto facultativo:
- Só irão votar os eleitores de esquerda, porque os nossos, só pagando.
(O Estado de São Paulo, coluna 3, 18.10.90)
Texto 4
O resultado das eleições demonstrou que a não obrigatoriedade do voto deve se transformar na próxima conquista da liberdade democrática, inclusive como o fato revelador da importância da própria função política. Assim, seria melhor dizer que todos o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos pelo voto consciente, livre e facultativo, sem qualquer coação.
(J. I. Souza, em carta publicada no Painel do Leitor, Folha de São Paulo, 23.10.90)
Texto 5
O número mais novo da cantora Madonna, 32 anos, é um anúncio de Tv em que ela aparece enrolada na bandeira dos Estados Unidos. Não se trata de algum escândalo envolvendo símbolos nacionais. Madonna é a nova arma do governo americano para reduzir a abstenção nas eleições do país, onde o voto não é obrigatório e a metade dos eleitores ignora as urnas. "Votar é tão importante quanto ter relações sexuais. Sem ambas as coisas, não existe futuro", diz ela.
(VEJA, ano 23, n 43, 31.10.90)
ATENÇÃO: Ao assinar sua carta, use apenas as iniciais do seu nome.
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