UFPR 2009 Português - Questões

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Surpresa: venceu a civilização

Fez um ano, no dia 26 de setembro que a lei que bane os outdoors e regulamenta os letreiros nas fachadas das casas comerciais foi aprovada pela Câmara Municipal de São Paulo. No dia 1$\ ^\circ$ de janeiro fará um ano que a lei, apelidada de Lei Cidade Limpa, entrou em vigor. Seus objetivos pareciam bons demais para virar realidade. No entanto, decorridos só um pouco mais de um ano da aprovação e nem dez meses da entrada em vigor, já é evidente que a lei pegou. [...]

A paisagem urbana mudou, em São Paulo. Antes da lei, a cidade constituía-se no mais perfeito exemplo de casada-mãe-joana em matéria de letreiros, faixas, painéis, cartazes e assemelhados a pendurar-se em fachadas, muros, totens, postes ou qualquer outra superfície disponível, fosse beira de telhado ou gradil de viaduto. Tal barafunda era um dos signos de seu terceiro mundismo, principalmente o terceiro-mundismo mental, cujo entendimento é de que o espaço público, em vez de um espaço de todos, é espaço de ninguém, livre para ser apropriado. Hoje - milagre! - já dá para transitar pelas ruas de São Paulo com a tranquilidade de que os olhos serão poupados do selvagem assédio dos anúncios.

A vitória da Lei Cidade Limpa lembra outra, ocorrida há dez anos, em Brasília: a do respeito à faixa de pedestres. Também nesse caso a questão girava em torno do uso da civitas, aqui no aspecto da conturbada convivência entre o automóvel e o pedestre. Diante do nível crítico a que haviam chegado os atropelamentos na cidade, o governo, então comandado pelo hoje senador Cristovam Buarque, decidiu fazer valer o respeito às faixas demarcadas para a travessia das ruas. Para começar, postou junto a elas guardas encarregados de explicar aos motoristas que aquele desenho no chão era sinal de que deviam parar, para deixar passar o pedestre. Transcorridos os três meses dessa fase “educativa”, começou a multar. O resultado foi que - outro milagre! - em Brasília os brasileiros entenderam o que é faixa de pedestre. Até hoje, a capital federal é um raro oásis na selva do trânsito brasileiro, em que motoristas observam a prioridade do pedestre nas faixas. [...]

(TOLEDO, Roberto Pompeu de. Veja, 10 out. 2007, p. 142.)

Escreva um texto sobre a possibilidade de esse “milagre” vir a acontecer com a lei de tolerância zero para o consumo de bebidas alcoólicas por motoristas. Seu texto deverá atender os seguintes itens:

  • Ter no mínimo 10 e no máximo 12 linhas;

  • Reportar-se à reflexão feita por Pompeu de Toledo, identificando a fonte;

  • Abordar a especificidade da lei de tolerância zero, que toca num tabu cultural (o consumo “social” de bebida).

Momento num café

Manuel Bandeira

Quando o enterro passou

Os homens que se achavam no café

Tiraram o chapéu maquinalmente

Saudavam o morto distraídos

Estavam todos voltados para a vida

Absortos na vida

Confiantes na vida.

Um no entanto se descobriu num gesto largo e demorado

Olhando o esquife longamente

Este sabia que a vida é uma agitação feroz e sem finalidade

Que a vida é traição E saudava a matéria que passava

Liberta para sempre da alma extinta.

(BANDEIRA, Manuel. 50 poemas escolhidos pelo autor. São Paulo: Cosac Naify, 2006, p. 42.)

O poema de Bandeira apresenta dois pontos de vista diferentes sobre a vida. A partir dessa leitura, organize um texto observando os seguintes pontos:

  • Explicite os dois pontos de vista presentes no poema;

  • Avalie a possibilidade de se afirmar a adesão do poeta a uma ou outra das visões presentes no poema;

  • Seu texto deverá ter de 8 a 10 linhas.

À beira de um colapso

Dados da ANEF Associação das Empresas Financeiras das Montadoras) mostram que o saldo de recursos para financiamento de veículos saltou de R$ 42,4 bilhões em 2004 para R$ 120 bilhões no primeiro trimestre de 2008, e a expectativa é que essa trajetória ascendente continue. Com tanto dinheiro financiando veículos, as vendas no mercado interno ultrapassaram 1 milhão de unidades em maio deste ano. Em 2007, essa quantidade foi alcançada em junho.

O recorde de automóveis vendidos no ano passado será certamente batido neste ano devendo se aproximar de 2,5 milhões de unidades. Em apenas oito anos, as vendas de veículos no mercado interno brasileiro dobraram. Saltaram de 1,1 milhão de unidades em 1999 para o recorde de 2,2 milhões em 2007. As indústrias automobilísticas têm investido grandes somas em suas linhas de produção para explorar o promissor mercado nacional.

Dados da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) mostram que, enquanto a relação habitante-automóvel é de 1,2 nos Estados Unidos, de 3,1 na Coréia do Sul e de 4,7 no México, no Brasil ela é de 7,9. Ou seja, há um contingente enorme de pessoas no mercado brasileiro contido na estratégia das montadoras de expandir mercados, uma vez que nos países ricos essa meta está restrita.

Por conta do potencial de expansão da frota de veículos, do volume de crédito crescente e da estabilidade econômica, as montadoras estão investindo neste ano um montante recorde de recursos no Brasil para aumentar a produção. Estão previstos cerca de US$ 5 bilhões em investimentos em 2008, 130% a mais comparativamente ao valor investido no ano passado. [...]

(CINTRA, Marcos. Folha de S. Paulo. 26 mai. 2008.)

Apesar da recente crise mundial, a questão apresentada por Marcos Cintra em maio não mudou muito. Pode-se observar que as primeiras medidas tomadas para contornar a crise dizem respeito justamente às indústrias automobilísticas. Tendo em vista esse quadro, escreva um texto de opinião, discutindo esse paradoxo. Seu texto deve:

  • Deixar clara sua posição;

  • Reportar-se a dados apresentados por Cintra que você considere pertinentes para sua argumentação;

  • Ter de 10 a 12 linhas.

O texto a seguir é parte da reportagem “Desmatamento aumenta 116% nos últimos 12 meses”, publicada pelo jornal Gazeta do Povo em 15 de agosto de 2008. Escreva um parágrafo de 5 a 7 linhas, dando continuidade aos parágrafos iniciais, sem necessariamente concluir o texto. O novo parágrafo deve:

  • Apresentar uma articulação clara com os parágrafos iniciais;

  • Introduzir informações novas, que garantam a progressão no tratamento do tema;

  • Dar continuidade ao início proposto: “Para reverter esse quadro, ...”.

O desmatamento acumulado na Amazônia nos últimos 12 meses foi 116% maior do que o acumulado dos 12 meses anteriores, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Entre junho de 2007 e maio de 2008, foram derrubados ou degradados $7.666\ \text{km}^{2}$ de floresta, contra $3.543\ \text{km}^{2}$ no mesmo período de 2006 a 2007. Os cálculos são do Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter), cujo relatório de maio foi divulgado nesta terça-feira ((15)). A área impactada no mês foi de $1.096\ \text{km}^{2}$, praticamente igual à de abril e equivalente ao território da cidade do Rio de Janeiro.

Mato Grosso foi responsável por 54% do desmatamento registrado nos últimos 12 meses, 59% do registrado em maio e 69% do acumulado nos primeiros cinco meses do ano. De um total de $3.730\ \text{km}^{2}$ de floresta derrubada ou degradada entre janeiro e maio, $2.571\ \text{kmi}^{2}$ estão dentro do Estado, segundo o Deter. Roraima aparece em um distante segundo lugar, com $464\ \text{km}^{2}$ (12%), e o Pará em terceiro, com $383\ \text{kmi}^{2}$ (10%) desmatados.

Para reverter esse quadro, ______________________________________________________

Vira-latas compensatórios

O erro que custou a Diego Hypólito uma medalha tida por todos como certa reativou um fantasma recorrente: a crença na vocação do brasileiro para fracassar nos momentos decisivos. Por alguma característica da alma nacional, não seríamos capazes de suportar tal pressão, o que se evidenciaria com particular clareza nas finais esportivas em que somos considerados favoritos.

Uma das razões dessa atitude é sem dúvida de natureza projetiva: os esportistas carregam nos ombros a responsabilidade de "representar a nação". Vencendo, inflam nossa auto-estima e, fazendo-nos crer que somos tão bons quanto os melhores, nos proporcionam uma satisfação narcísica rala, mas de certo modo eficaz; se perderem, confirmam a crença na pouca valia dos nossos conterrâneos e, portanto, de nós mesmos.

O segundo motivo para desprezar os "perdedores" é a inveja, pois jamais chegaremos a realizar nada parecido com as proezas de que são capazes esses jovens. Como a inveja não é um sentimento nobre, negamo-la atribuindo o "fracasso" não às circunstâncias específicas que o provocaram, mas a algo cuja função é nos tornar mais uma vez semelhantes aos que, no fundo, não podemos deixar de admirar - mas agora pelo avesso: se a incapacidade de transformar o favoritismo em realizações é uma trágica fatalidade do caráter brasileiro, então os atletas não podiam mesmo conquistar a almejada vitória.

Para o esporte vale o que escreveu Maquiavel a propósito da política: o sucesso não depende apenas da "virtii", mas também da "fortuna"."Virtii" é o que o combatente traz consigo: seu preparo técnico, seu conhecimento do terreno e do adversário, a qualidade de suas armas. "Fortuna" é o fator imprevisível que favorece um ou outro - a lama no campo de batalha, o erro do oponente, a vara que faltava no estojo de Fabiana Murer.

A contusão de Liu Xiang [China, atletismo] é obra da "fortuna", assim como o imbecil que agarrou Valdemar Cordeiro na maratona de 2004 ou a falha de Diego Hypólito no instante final. "Faço este movimento desde os 12 anos, nunca errei", lamentava-se ele ao rever o filme da prova. Até que um dia... Na mesma entrevista, o ginasta reconheceu onde estava sua fraqueza: "Creio que poderia não ter criado tanta expectativa quanto ao ouro". Ou seja, além da pressão da torcida, o próprio atleta acaba se persuadindo da obrigação de vencer, e isso o perturba no momento decisivo. Por outro lado, a "virtii" contribuiu, e muito, para alguns bons resultados em Pequim. Entre outros exemplos, ressalto o trabalho psicológico com a equipe feminina de vôlei, o cuidado das velejadoras Fernanda Oliveira e Isabel Swan em estudar as condições do lugar em que iriam competir, a equipe multiprofissional de que se cercou a lutadora Natália Falavigna no taekwondo, o apoio dado pela família a César Cielo, a determinação de Ketleyn Quadros e de Maurren Maggi. O que esta escreveu na carta ao seu técnico -"dei duro e estou preparada" - não garantia a vitória, mas sem isso ela jamais chegaria. Contraprova: a "pátria de chuteiras", com muita empáfia e pouco treino, tinha chances remotas contra uma Argentina que se preparou melhor - e merecidamente levou o título.

É tempo de deixarmos de lado o que Nelson Rodrigues chamava de "complexo de vira-lata". Ao invocar absurdos como a suposta incapacidade nacional para manter a cabeça fria na hora H, não apenas estamos faltando com a verdade - desde a invenção dos esportes modernos, inúmeros brasileiros venceram finais com tranquilidade, assim como outros foram prejudicados pelo nervosismo ou pela arrogância - mas ainda apequenamos o valor de resultados conseguidos com esforço hercúleo, independentemente do metal das medalhas - ou da ausência delas.

(MEZAN, Renato. Folha de S. Paulo. 31 ago. 2008. Mais!, p. 10 - adaptado)

Faça um resumo do texto acima, atendendo os seguintes requisitos:

  • Esclareça que se trata de um texto de Renato Mezan;

  • Assuma a voz do texto, fazendo as devidas referências ao autor;

  • Utilize no máximo 10 linhas.

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