Surpresa: venceu a civilização

Fez um ano, no dia 26 de setembro que a lei que bane os outdoors e regulamenta os letreiros nas fachadas das casas comerciais foi aprovada pela Câmara Municipal de São Paulo. No dia 1 de janeiro fará um ano que a lei, apelidada de Lei Cidade Limpa, entrou em vigor. Seus objetivos pareciam bons demais para virar realidade. No entanto, decorridos só um pouco mais de um ano da aprovação e nem dez meses da entrada em vigor, já é evidente que a lei pegou. [...]

A paisagem urbana mudou, em São Paulo. Antes da lei, a cidade constituía-se no mais perfeito exemplo de casada-mãe-joana em matéria de letreiros, faixas, painéis, cartazes e assemelhados a pendurar-se em fachadas, muros, totens, postes ou qualquer outra superfície disponível, fosse beira de telhado ou gradil de viaduto. Tal barafunda era um dos signos de seu terceiro mundismo, principalmente o terceiro-mundismo mental, cujo entendimento é de que o espaço público, em vez de um espaço de todos, é espaço de ninguém, livre para ser apropriado. Hoje - milagre! - já dá para transitar pelas ruas de São Paulo com a tranquilidade de que os olhos serão poupados do selvagem assédio dos anúncios.

A vitória da Lei Cidade Limpa lembra outra, ocorrida há dez anos, em Brasília: a do respeito à faixa de pedestres. Também nesse caso a questão girava em torno do uso da civitas, aqui no aspecto da conturbada convivência entre o automóvel e o pedestre. Diante do nível crítico a que haviam chegado os atropelamentos na cidade, o governo, então comandado pelo hoje senador Cristovam Buarque, decidiu fazer valer o respeito às faixas demarcadas para a travessia das ruas. Para começar, postou junto a elas guardas encarregados de explicar aos motoristas que aquele desenho no chão era sinal de que deviam parar, para deixar passar o pedestre. Transcorridos os três meses dessa fase “educativa”, começou a multar. O resultado foi que - outro milagre! - em Brasília os brasileiros entenderam o que é faixa de pedestre. Até hoje, a capital federal é um raro oásis na selva do trânsito brasileiro, em que motoristas observam a prioridade do pedestre nas faixas. [...]

(TOLEDO, Roberto Pompeu de. Veja, 10 out. 2007, p. 142.)

Escreva um texto sobre a possibilidade de esse “milagre” vir a acontecer com a lei de tolerância zero para o consumo de bebidas alcoólicas por motoristas. Seu texto deverá atender os seguintes itens:

  • Ter no mínimo 10 e no máximo 12 linhas;

  • Reportar-se à reflexão feita por Pompeu de Toledo, identificando a fonte;

  • Abordar a especificidade da lei de tolerância zero, que toca num tabu cultural (o consumo “social” de bebida).