UFPR 2003 Português - Questões

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Leia o trecho abaixo, extraído do capítulo “Troca de Opiniões”, do romance Esaú e Jacó, escrito por Machado de Assis.

Senão quando, viu Natividade os primeiros sinais de uma troca de inclinação, que mais parecia propósito que efeito natural. Entretanto, era naturalíssimo. Paulo entrou a fazer oposição ao governo, ao passo que Pedro moderava o tom e o sentido, e acabava aceitando o regime republicano, objeto de tantas desavenças.

Num texto de no máximo dez linhas, explique por que o narrador tem razão ao dizer que essa mudança não é algo proposital, mas sim natural, para os gêmeos.

Observe as sentenças a seguir.

1) Vão haver muitas reuniões para discutir o tipo de premiação dos jogos escolares.

2) Todos os times que a gente disputou campeonato receberam multa.

3) Aquele é o sujeito que o pai dele se feriu num acidente.

4) Foi aberto para uso público, finalmente, os parques da região norte da cidade.

5) As farmácias têm muitos remédios à venda, onde boa parte deles não faz efeito.

De acordo com as normas da língua padrão escrita, assinale a(s) alternativa(s) que avalia(m) adequadamente as sentenças acima.

a) "Todos os times com os quais a gente disputou campeonato receberam multa" e "As farmácias têm muitos remédios à venda, mas boa parte deles não faz efeito" reescrevem corretamente (2) e (5).

b) "Aquele é o sujeito onde o pai dele se feriu num acidente" e "Foram abertos para uso público, finalmente, os parques da região norte da cidade" reescrevem corretamente (3) e (4).

c) "Irão haver muitas reuniões para discutir o tipo de premiação dos jogos escolares" e "Todos os times de quem a gente disputou campeonato receberam multa" reescrevem corretamente (1) e (2).

d) "Foram aberto para uso público, finalmente, os parques da região norte da cidade" reescreve corretamente a sentença (4); e "As farmácias têm muitos remédios à venda, onde boa parte deles não faz efeito", apresentada em (5), está correta.

e) "Vai haver muitas reuniões para discutir o tipo de premiação dos jogos escolares" e "Aquele é o sujeito cujo pai se feriu num acidente" reescrevem corretamente (1) e (3).

f) "Todos os times que a gente disputou campeonato receberam multa" e "Aquele é o sujeito que o pai dele se feriu num acidente", apresentadas em (2) e (3), são formas corretas.

Texto I

O pavão

Eu considerei a glória de um pavão ostentando o esplendor de suas cores; é um luxo imperial. Mas andei lendo livros, e descobri que aquelas cores todas não existem na pena do pavão. Não há pigmentos. O que há são minúsculas bolhas d’água em que a luz se fragmenta, como em um prisma. O pavão é um arco-íris de plumas.

Eu considerei que este é o luxo do grande artista, atingir o máximo de matizes com o mínimo de elementos. De água e luz ele faz seu esplendor; seu grande mistério é a simplicidade. Considerei, por fim, que assim é o amor, oh! minha amada; de tudo que ele suscita e esplende e estremece e delira em mim existem apenas meus olhos recebendo a luz de teu olhar. Ele me cobre de glórias e me faz magnífico.

(BRAGA, Rubem. 200 crônicas escolhidas. 5. ed. Rio de Janeiro: Record, 1983.)

Texto II

Tragédia brasileira

Misael, funcionário da Fazenda, com 63 anos de idade.

Conheceu Maria Elvira na Lapa – prostituída, com sífilis, dermite nos dedos, uma aliança empenhada e os dentes em petição de miséria.

Misael tirou Maria Elvira da vida, instalou-a num sobrado no Estácio, pagou médico, dentista, manicura... Dava tudo quanto ela queria.

Quando Maria Elvira se apanhou de boca bonita, arranjou logo um namorado.

Misael não queria escândalo. Podia dar uma surra, um tiro, uma facada. Não fez nada disso: mudou de casa.

Viveram três anos assim.

Toda vez que Maria Elvira arranjava namorado, Misael mudava de casa. Os amantes moraram no Estácio, Rocha, Catete, Rua General Pedra, Olaria, Ramos, Bonsucesso, Vila Isabel, Rua Marquês de Sapucaí, Niterói, Encantado, Rua Clapp, outra vez no Estácio, Todos os Santos, Catumbi, Lavradio, Boca do Mato, Inválidos...

Por fim na Rua da Constituição, onde Misael, privado de sentidos e de inteligência, matou-a com seis tiros, e a polícia foi encontrá-la caída em decúbito dorsal, vestida de organdi azul.

(BANDEIRA, Manuel. Meus poemas preferidos. Rio de Janeiro: Edições de Ouro, 1966.)

Sobre os textos transcritos acima, é correto afirmar:

a) A concisão e o caráter descritivo do texto I fazem dele exemplar significativo do tom dominante nos escritos que integram a antologia de Rubem Braga: objetividade e precisão na representação dos temas abordados, com intenções informativas, em registro tipicamente jornalístico.

b) O texto II revela as preocupações do autor com as mazelas sociais, ali representadas por meio da crítica à precariedade das condições de habitação das classes populares, num raro exemplo de uso da prosa, modalidade em que o autor quase não se exercitou.

c) Quanto à tipologia, o texto I é uma crônica e o texto II um poema, não tanto por diferenças de natureza estritamente textual, mas antes pelo contexto da publicação de um e outro trabalho, assim como por seu modo de inserção no conjunto da obra de seus respectivos autores.

d) O lirismo presente no texto I manifesta-se em acentos poéticos que são perceptíveis, entre outros aspectos, na intensidade emocional que se expande com nitidez na enumeração de verbos do parágrafo final, bem como na exclamação "assim é o amor, oh! minha amada".

e) Atenta às coisas miúdas da vida cotidiana, é nelas que a poesia de Manuel Bandeira encontra não apenas sua matéria, mas muito dos seus recursos expressivos, do que é bom exemplo o texto II, em cuja construção é possível reconhecer traços textuais do noticiário policial.

f) No texto II, a irrupção do extraordinário em meio à vivência comum de toda a gente revela a influência do realismo mágico na obra de Manuel Bandeira; por sua vez, no texto I, a preocupação com o convencimento do leitor reflete o perfil socialmente engajado da arte daquele período.

Leia o trecho abaixo, extraído de um diálogo entre Fernando Seixas e Aurélia Camargo no último capítulo de Senhora, de José de Alencar, e assinale a(s) alternativa(s) que contém(êm) afirmações corretas.

– Agora nossa conta, continuou Seixas desdobrando uma folha de papel. A senhora pagou-me cem contos de réis; oitenta em um cheque do Banco do Brasil que restituo intacto; e vinte em dinheiro recebido há 330 dias. Ao juro de 6% essa quantia lhe rendeu 1.084$710. Tenho portanto que entregar-lhe 21.084$710, além do cheque. Não é isso?

a) Esse trecho destoa do livro como um todo, já que sua linguagem tão claramente comercial não pode ser compatível com o amor que Fernando e Aurélia sentem desde que se conhecem e que prevalece no final.

b) Num primeiro momento, Aurélia se comporta como Fernando, ou seja, encara a situação como o fechamento de um negócio e aceita calmamente o pagamento que lhe é oferecido.

c) A última parte de Senhora se chama "Resgate", não apenas porque nela Fernando resgata sua liberdade, através do pagamento que faz a Aurélia, mas também porque o amor verdadeiro que há entre eles é resgatado, e seu casamento pode ser consumado.

d) Aurélia também resgata o amor de Fernando já que, quando mostra um testamento em que deixa tudo o que tem para ele, prova que o dinheiro não tem importância para ela.

e) Fernando pôde pagar sua dívida porque, de um lado, mudou seu comportamento, voltou a trabalhar e passou a se preocupar menos com a sociedade; de outro lado, porque recebeu dinheiro de um investimento que havia feito anos antes.

f) O final feliz de Senhora deve-se ao fato de que Fernando pagou os juros combinados por Lemos, tio de Aurélia, quando o contrato de casamento foi negociado.

Sábato Magaldi, importante crítico teatral brasileiro, afirma a respeito de A moratória:

Situando a peça em dois planos e a ação nos anos de 1929 e 1932, Jorge Andrade quis deixar bem marcada a queda irremediável da aristocracia rural. Há ironia e quase sadismo na repetição do jogo de esperança e desespero, até que o pano baixe sobre um silêncio mortal. Apenas 1929 seria o retrato da crise, da perda da fazenda com o aviltamento do preço do café. Mas um grupo não morre de uma vez, a não ser pela revolução, e A moratória compraz-se em consignar os estertores, a última tentativa de sobrevivência. Procura-se alegar, judicialmente, a nulidade do processo de praceamento, mas uma sutileza jurídica, arbitrária quase na indiferença com que atua, torna vão o esforço. 1932 encerra em definitivo uma fase da vida nacional e A moratória sela, na literatura, o processo de decomposição.

(Panorama do teatro brasileiro. SNT; DAC/FUNARTE; MEC, [s. d.]. p. 213.)

Pensando nas palavras do crítico, assinale a(s) alternativa(s) correta(s) a respeito de A moratória.

a) O fundo histórico da peça são o crack da Bolsa de Nova Iorque e os problemas políticos que o Brasil vive na transição da República Velha para a República Nova.

b) A fala de Joaquim, repetida diversas vezes durante a peça, "somos o que fomos", representa seu orgulho e a certeza de que a realidade não alterará a trajetória da vida mantida até ali.

c) Olímpio, namorado de Helena, só será aceito por Joaquim por ser advogado e, assim, ter meios para tentar reverter o processo de perda da fazenda.

d) Joaquim e Lucília, durante o transcurso da peça, vivem processo psicológico idêntico: de personagens absolutamente duros, quase cruéis, tornam-se aos poucos mais dóceis, a ponto de acreditar que perder a fazenda foi uma lição de humildade que receberam.

e) Alternando as falas do plano do presente e do plano do passado, a peça ganha intenso dinamismo dramatúrgico, ao mesmo tempo que marca as diferenças entre a riqueza do passado e a pobreza do presente a que está relegada uma família rural e aristocrática.

f) Após a decadência, Helena, a esposa de Joaquim, Lucília e Marcelo, os filhos, trabalham duramente em profissões diversas para garantir o mínimo de dignidade à família falida.

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