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Morro velho

No sertão da minha terra,

¹fazenda é o camarada que ao chão se deu..

Fez a obrigação com força,

parece até que tudo aquilo ali é seu.

Só poder sentar no morro e ver tudo verdinho,

lindo a crescer.

Orgulhoso camarada, de viola em vez de enxada.

Filho do branco e do preto,

correndo pela estrada atrás de passarinho.

Pela plantação adentro,

crescendo os dois meninos, sempre pequeninos.

Peixe bom dá no riacho de água tão limpinha,

dá pro fundo ver.

Orgulhoso camarada conta histórias pra moçada.

Filho do sinhô vai embora,

tempo de estudos na cidade grande.

Parte, tem os olhos tristes,

deixando o companheiro na estação distante.

“Não me esqueça, amigo, eu vou voltar.”

Some longe o trenzinho ao deus-dará.

Quando volta já é outro,

trouxe até sinhá-mocinha para apresentar.

Linda como a luz da lua

que em lugar nenhum rebrilha como lá.

Já tem nome de doutor

e agora na fazenda é quem vai mandar.

E seu velho camarada

já não brinca, mas trabalha.

MILTON NASCIMENTO

Adaptado de miltonnascimento.com.br.

fazenda é o camarada que ao chão se deu. (ref. 1)

No verso da canção de Milton Nascimento, o poeta apresenta uma definição da palavra “fazenda”.

Com base na primeira estrofe, essa definição destaca o seguinte elemento do contexto descrito:


Lugares de memória: para não esquecer

O Cais do Valongo, principal porto de entrada de escravizados das Américas, recebeu em 2017 o título de Patrimônio Cultural da Humanidade, pela Unesco. A distinção define o Valongo, localizado na região portuária do Rio de Janeiro, como um “lugar de memória”, ao lado de outros, como o campo de concentração de Auschwitz, na Polônia, ou a cidade de Hiroshima, no Japão.¹

Inaugurado em 1811, o cais logo se converteu no principal ponto de desembarque de africanos escravizados das três Américas. Localizado a poucos passos do Palácio Real, não era raro aos monarcas brasileiros ver os africanos², apressadamente desembarcados, sendo separados de suas famílias, limpos, vestidos, pesados, tendo seus corpos marcados a ferro.

Começava, então, uma nova viagem. Dessa vez, rumo à tentativa de desterritorialização e de invisibilização dos africanos, de quem se procurava apagar a memória, qualquer laivo de identidade e orgulho que carregavam de suas nações. Vários viajantes passaram pelo Valongo e constataram o triste espetáculo que se apresentava naquele mercado, dentre eles o artista Jean-Baptiste Debret (1768-1848).

Em sua aquarela, aparecem os mesmos “esqueletos” descritos em texto. À direita, o comerciante gorducho (cuja barriga simboliza a fartura) negocia com o proprietário de terras, com seu chapelão e bengala, os detalhes da venda do pequeno garoto postado à sua frente. O artista francês fez questão de caprichar no vazio do ambiente, e nos africanos sem rosto, quase nus, que apenas aguardam pelo destino nas Américas. Um desterro forçado nos campos tropicais do Brasil.

Em 1911, o Cais do Valongo foi aterrado, da mesma maneira como se tentou esconder e esquecer “os males e as lembranças dos tempos da escravidão”. Esse era o discurso civilizatório da Primeira República, que procurava jogar para o Império a conta da escravidão, cuja culpa é de todos nós.

“Redescoberto” 100 anos depois, o Cais do Valongo é hoje um sítio arqueológico que expõe na nossa atualidade as perversões do sistema escravocrata, mas também testemunha a resistência dessas populações. Trata-se do mais importante acervo de vestígios materiais e simbólicos localizado fora da África, com quase 500 mil itens. A expressão “lugar de memória” foi criada pelo historiador francês Pierre Nora. Seu objetivo era justamente evitar o desaparecimento dos registros históricos, como arquivos, monumentos, museus e certos espaços específicos. Podem ser desde objetos materiais e concretos até vestígios imateriais e orais. O importante, porém, é que eles só se convertem, efetivamente, em “lugares de memória”, se a imaginação coletiva investi-los como lugares simbólicos.

Conforme define Alberto da Costa e Silva: “O Brasil é um país extraordinariamente africanizado³. E só a quem não conhece a África pode escapar o quanto há de africano nos gestos, nas maneiras de ser e de viver e no sentimento estético do brasileiro . Por sua vez, em toda a costa atlântica da África, podem-se facilmente reconhecer os brasileirismos. O escravo ficou dentro de nós, qualquer que seja nossa origem.”

LILIA MORITZ SCHWARCZ

Adaptado de nexojornal.com.br, 31/07/2017

um “lugar de memória”, ao lado de outros, como o campo de concentração de Auschwitz, na Polônia, ou a cidade de Hiroshima, no Japão. ¹

A comparação acima inclui o Cais do Valongo no conjunto de lugares de memória pelo reconhecimento do seguinte atributo comum:


Lugares de memória: para não esquecer

O Cais do Valongo, principal porto de entrada de escravizados das Américas, recebeu em 2017 o título de Patrimônio Cultural da Humanidade, pela Unesco. A distinção define o Valongo, localizado na região portuária do Rio de Janeiro, como um “lugar de memória”, ao lado de outros, como o campo de concentração de Auschwitz, na Polônia, ou a cidade de Hiroshima, no Japão.¹

Inaugurado em 1811, o cais logo se converteu no principal ponto de desembarque de africanos escravizados das três Américas. Localizado a poucos passos do Palácio Real, não era raro aos monarcas brasileiros ver os africanos², apressadamente desembarcados, sendo separados de suas famílias, limpos, vestidos, pesados, tendo seus corpos marcados a ferro.

Começava, então, uma nova viagem. Dessa vez, rumo à tentativa de desterritorialização e de invisibilização dos africanos, de quem se procurava apagar a memória, qualquer laivo de identidade e orgulho que carregavam de suas nações. Vários viajantes passaram pelo Valongo e constataram o triste espetáculo que se apresentava naquele mercado, dentre eles o artista Jean-Baptiste Debret (1768-1848).

Em sua aquarela, aparecem os mesmos “esqueletos” descritos em texto. À direita, o comerciante gorducho (cuja barriga simboliza a fartura) negocia com o proprietário de terras, com seu chapelão e bengala, os detalhes da venda do pequeno garoto postado à sua frente. O artista francês fez questão de caprichar no vazio do ambiente, e nos africanos sem rosto, quase nus, que apenas aguardam pelo destino nas Américas. Um desterro forçado nos campos tropicais do Brasil.

Em 1911, o Cais do Valongo foi aterrado, da mesma maneira como se tentou esconder e esquecer “os males e as lembranças dos tempos da escravidão”. Esse era o discurso civilizatório da Primeira República, que procurava jogar para o Império a conta da escravidão, cuja culpa é de todos nós.

“Redescoberto” 100 anos depois, o Cais do Valongo é hoje um sítio arqueológico que expõe na nossa atualidade as perversões do sistema escravocrata, mas também testemunha a resistência dessas populações. Trata-se do mais importante acervo de vestígios materiais e simbólicos localizado fora da África, com quase 500 mil itens. A expressão “lugar de memória” foi criada pelo historiador francês Pierre Nora. Seu objetivo era justamente evitar o desaparecimento dos registros históricos, como arquivos, monumentos, museus e certos espaços específicos. Podem ser desde objetos materiais e concretos até vestígios imateriais e orais. O importante, porém, é que eles só se convertem, efetivamente, em “lugares de memória”, se a imaginação coletiva investi-los como lugares simbólicos.

Conforme define Alberto da Costa e Silva: “O Brasil é um país extraordinariamente africanizado³. E só a quem não conhece a África pode escapar o quanto há de africano nos gestos, nas maneiras de ser e de viver e no sentimento estético do brasileiro . Por sua vez, em toda a costa atlântica da África, podem-se facilmente reconhecer os brasileirismos. O escravo ficou dentro de nós, qualquer que seja nossa origem.”

LILIA MORITZ SCHWARCZ

Adaptado de nexojornal.com.br, 31/07/2017

Palavras de um mesmo campo de significados podem indicar diferentes valores, como o de definição de um elemento e o de resultado de um processo.

Esses dois valores estão exemplificados, respectivamente, no seguinte par de palavras:


Lugares de memória: para não esquecer

O Cais do Valongo, principal porto de entrada de escravizados das Américas, recebeu em 2017 o título de Patrimônio Cultural da Humanidade, pela Unesco. A distinção define o Valongo, localizado na região portuária do Rio de Janeiro, como um “lugar de memória”, ao lado de outros, como o campo de concentração de Auschwitz, na Polônia, ou a cidade de Hiroshima, no Japão.¹

Inaugurado em 1811, o cais logo se converteu no principal ponto de desembarque de africanos escravizados das três Américas. Localizado a poucos passos do Palácio Real, não era raro aos monarcas brasileiros ver os africanos², apressadamente desembarcados, sendo separados de suas famílias, limpos, vestidos, pesados, tendo seus corpos marcados a ferro.

Começava, então, uma nova viagem. Dessa vez, rumo à tentativa de desterritorialização e de invisibilização dos africanos, de quem se procurava apagar a memória, qualquer laivo de identidade e orgulho que carregavam de suas nações. Vários viajantes passaram pelo Valongo e constataram o triste espetáculo que se apresentava naquele mercado, dentre eles o artista Jean-Baptiste Debret (1768-1848).

Em sua aquarela, aparecem os mesmos “esqueletos” descritos em texto. À direita, o comerciante gorducho (cuja barriga simboliza a fartura) negocia com o proprietário de terras, com seu chapelão e bengala, os detalhes da venda do pequeno garoto postado à sua frente. O artista francês fez questão de caprichar no vazio do ambiente, e nos africanos sem rosto, quase nus, que apenas aguardam pelo destino nas Américas. Um desterro forçado nos campos tropicais do Brasil.

Em 1911, o Cais do Valongo foi aterrado, da mesma maneira como se tentou esconder e esquecer “os males e as lembranças dos tempos da escravidão”. Esse era o discurso civilizatório da Primeira República, que procurava jogar para o Império a conta da escravidão, cuja culpa é de todos nós.

“Redescoberto” 100 anos depois, o Cais do Valongo é hoje um sítio arqueológico que expõe na nossa atualidade as perversões do sistema escravocrata, mas também testemunha a resistência dessas populações. Trata-se do mais importante acervo de vestígios materiais e simbólicos localizado fora da África, com quase 500 mil itens. A expressão “lugar de memória” foi criada pelo historiador francês Pierre Nora. Seu objetivo era justamente evitar o desaparecimento dos registros históricos, como arquivos, monumentos, museus e certos espaços específicos. Podem ser desde objetos materiais e concretos até vestígios imateriais e orais. O importante, porém, é que eles só se convertem, efetivamente, em “lugares de memória”, se a imaginação coletiva investi-los como lugares simbólicos.

Conforme define Alberto da Costa e Silva: “O Brasil é um país extraordinariamente africanizado³. E só a quem não conhece a África pode escapar o quanto há de africano nos gestos, nas maneiras de ser e de viver e no sentimento estético do brasileiro . Por sua vez, em toda a costa atlântica da África, podem-se facilmente reconhecer os brasileirismos. O escravo ficou dentro de nós, qualquer que seja nossa origem.”

LILIA MORITZ SCHWARCZ

Adaptado de nexojornal.com.br, 31/07/2017

Ao final do texto, a autora expõe um posicionamento de Alberto da Costa e Silva. Segundo esse especialista, entre Brasil e países da África construiu-se uma relação cultural de:


Essa questão refere-se ao romance Triste Fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto.

O romance põe em questão a ideia de patriotismo, apresentando diferentes visões de seus personagens sobre a noção de pátria. Isso se observa no confronto entre a noção idealizada de Policarpo Quaresma e aquela manifestada pelas elites militar e política do país.

A apropriação da noção de pátria por essas elites se caracteriza como:


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