UFPR 2005 Português - Questões
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Estigma
Os gregos, que tinham bastante conhecimento de recursos visuais, criaram o termo estigma para se referirem a sinais corporais com os quais se procurava evidenciar alguma coisa de extraordinário ou mau sobre o status moral de quem os apresentava. Os sinais eram feitos com cortes ou fogo no corpo e avisavam que o portador era um escravo, um criminoso ou traidor – uma pessoa marcada, ritualmente poluída, que devia ser evitada, especialmente em lugares públicos. Mais tarde, na Era Cristã, dois níveis de metáfora foram acrescentados ao termo: o primeiro deles referia-se a sinais corporais de graça divina que tomavam a forma de flores em erupção sobre a pele; o segundo, uma alusão médica a essa alusão religiosa, referia-se a sinais corporais de distúrbio físico. Atualmente, o termo é amplamente usado de maneira um tanto semelhante ao sentido literal original, porém é mais aplicado à própria desgraça do que à sua evidência corporal. Além disso, houve alterações nos tipos de desgraças que causam preocupação. (...)
Podem-se mencionar três tipos de estigma nitidamente diferentes. Em primeiro lugar, há as abominações do corpo – as várias deformidades físicas. Em segundo, as culpas de caráter individual, percebidas como vontade fraca, paixões tirânicas ou não naturais, crenças falsas e rígidas, desonestidade, sendo essas inferidas a partir de relatos conhecidos de, por exemplo, distúrbio mental, prisão, vício, alcoolismo, homossexualismo, desemprego, tentativas de suicídio e comportamento político radical. Finalmente, há os estigmas tribais de raça, nação e religião, que podem ser transmitidos através de linhagem e contaminar por igual todos os membros de uma família. Em todos esses exemplos de estigma, entretanto, inclusive aqueles que os gregos tinham em mente, encontram-se as mesmas características sociológicas: um indivíduo que poderia ter sido facilmente recebido na relação social quotidiana possui um traço que pode-se impor à atenção e afastar aqueles que ele encontra, destruindo a possibilidade de atenção para outros atributos seus. Ele possui um estigma, uma característica diferente da que havíamos previsto. Nós e os que não se afastam negativamente das expectativas particulares em questão serão por mim chamados de normais.
As atitudes que nós, normais, temos com uma pessoa com um estigma, e os atos que empreendemos em relação a ela são bem conhecidos na medida em que são as respostas que a ação social benevolente tenta suavizar e melhorar. Por definição, é claro, acreditamos que alguém com um estigma não seja completamente humano. Com base nisso, fazemos vários tipos de discriminações, através das quais, efetivamente, e muitas vezes sem pensar, reduzimos suas chances de vida.
(GOFFMAN, Erving. Estigma: notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. Rio de Janeiro: LTC, 1988. p. 11-15.)
Segundo o texto, é correto afirmar:
Estigma
Os gregos, que tinham bastante conhecimento de recursos visuais, criaram o termo estigma para se referirem a sinais corporais com os quais se procurava evidenciar alguma coisa de extraordinário ou mau sobre o status moral de quem os apresentava. Os sinais eram feitos com cortes ou fogo no corpo e avisavam que o portador era um escravo, um criminoso ou traidor – uma pessoa marcada, ritualmente poluída, que devia ser evitada, especialmente em lugares públicos. Mais tarde, na Era Cristã, dois níveis de metáfora foram acrescentados ao termo: o primeiro deles referia-se a sinais corporais de graça divina que tomavam a forma de flores em erupção sobre a pele; o segundo, uma alusão médica a essa alusão religiosa, referia-se a sinais corporais de distúrbio físico. Atualmente, o termo é amplamente usado de maneira um tanto semelhante ao sentido literal original, porém é mais aplicado à própria desgraça do que à sua evidência corporal. Além disso, houve alterações nos tipos de desgraças que causam preocupação. (...)
Podem-se mencionar três tipos de estigma nitidamente diferentes. Em primeiro lugar, há as abominações do corpo – as várias deformidades físicas. Em segundo, as culpas de caráter individual, percebidas como vontade fraca, paixões tirânicas ou não naturais, crenças falsas e rígidas, desonestidade, sendo essas inferidas a partir de relatos conhecidos de, por exemplo, distúrbio mental, prisão, vício, alcoolismo, homossexualismo, desemprego, tentativas de suicídio e comportamento político radical. Finalmente, há os estigmas tribais de raça, nação e religião, que podem ser transmitidos através de linhagem e contaminar por igual todos os membros de uma família. Em todos esses exemplos de estigma, entretanto, inclusive aqueles que os gregos tinham em mente, encontram-se as mesmas características sociológicas: um indivíduo que poderia ter sido facilmente recebido na relação social quotidiana possui um traço que pode-se impor à atenção e afastar aqueles que ele encontra, destruindo a possibilidade de atenção para outros atributos seus. Ele possui um estigma, uma característica diferente da que havíamos previsto. Nós e os que não se afastam negativamente das expectativas particulares em questão serão por mim chamados de normais.
As atitudes que nós, normais, temos com uma pessoa com um estigma, e os atos que empreendemos em relação a ela são bem conhecidos na medida em que são as respostas que a ação social benevolente tenta suavizar e melhorar. Por definição, é claro, acreditamos que alguém com um estigma não seja completamente humano. Com base nisso, fazemos vários tipos de discriminações, através das quais, efetivamente, e muitas vezes sem pensar, reduzimos suas chances de vida.
(GOFFMAN, Erving. Estigma: notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. Rio de Janeiro: LTC, 1988. p. 11-15.)
Entre os diversos conceitos de “estigma” apresentados no texto, assinale a alternativa que sintetiza o uso mais amplo que o termo adquiriu na atualidade.
Estigma
Os gregos, que tinham bastante conhecimento de recursos visuais, criaram o termo estigma para se referirem a sinais corporais com os quais se procurava evidenciar alguma coisa de extraordinário ou mau sobre o status moral de quem os apresentava. Os sinais eram feitos com cortes ou fogo no corpo e avisavam que o portador era um escravo, um criminoso ou traidor – uma pessoa marcada, ritualmente poluída, que devia ser evitada, especialmente em lugares públicos. Mais tarde, na Era Cristã, dois níveis de metáfora foram acrescentados ao termo: o primeiro deles referia-se a sinais corporais de graça divina que tomavam a forma de flores em erupção sobre a pele; o segundo, uma alusão médica a essa alusão religiosa, referia-se a sinais corporais de distúrbio físico. Atualmente, o termo é amplamente usado de maneira um tanto semelhante ao sentido literal original, porém é mais aplicado à própria desgraça do que à sua evidência corporal. Além disso, houve alterações nos tipos de desgraças que causam preocupação. (...)
Podem-se mencionar três tipos de estigma nitidamente diferentes. Em primeiro lugar, há as abominações do corpo – as várias deformidades físicas. Em segundo, as culpas de caráter individual, percebidas como vontade fraca, paixões tirânicas ou não naturais, crenças falsas e rígidas, desonestidade, sendo essas inferidas a partir de relatos conhecidos de, por exemplo, distúrbio mental, prisão, vício, alcoolismo, homossexualismo, desemprego, tentativas de suicídio e comportamento político radical. Finalmente, há os estigmas tribais de raça, nação e religião, que podem ser transmitidos através de linhagem e contaminar por igual todos os membros de uma família. Em todos esses exemplos de estigma, entretanto, inclusive aqueles que os gregos tinham em mente, encontram-se as mesmas características sociológicas: um indivíduo que poderia ter sido facilmente recebido na relação social quotidiana possui um traço que pode-se impor à atenção e afastar aqueles que ele encontra, destruindo a possibilidade de atenção para outros atributos seus. Ele possui um estigma, uma característica diferente da que havíamos previsto. Nós e os que não se afastam negativamente das expectativas particulares em questão serão por mim chamados de normais.
As atitudes que nós, normais, temos com uma pessoa com um estigma, e os atos que empreendemos em relação a ela são bem conhecidos na medida em que são as respostas que a ação social benevolente tenta suavizar e melhorar. Por definição, é claro, acreditamos que alguém com um estigma não seja completamente humano. Com base nisso, fazemos vários tipos de discriminações, através das quais, efetivamente, e muitas vezes sem pensar, reduzimos suas chances de vida.
(GOFFMAN, Erving. Estigma: notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. Rio de Janeiro: LTC, 1988. p. 11-15.)
A partir do texto, é INCORRETO afirmar:
Eduardo Gonçalves de Andrade, o Tostão, foi um dos maiores jogadores de futebol que o Brasil já teve, sendo comparado a Pelé. Neste trecho de entrevista, concedida em 1993, Tostão relembra momentos importantes de sua vida como jogador.
Entrevistador: Você foi o jogador de fato mais comparado ao Pelé. Eu queria saber qual o peso dessa comparação, já que o Pelé é... uma barbaridade. E como é jogar com ele? Você sentiu isso como algo diferente?
Tostão: Sem nenhuma falsa modéstia, eu nunca me aproximei do Pelé. Ele foi um jogador realmente à parte, muito acima de todos os outros jogadores de todas as épocas. O Pelé tinha tudo, todas as qualidades. Eu tinha grandes qualidades, mas algumas dificuldades. O Pelé não: cabeceava muito bem, tinha velocidade, driblava, era um jogador muito inteligente dentro do campo. Apesar de ter sido uma pessoa pobre, ele tinha um físico exemplar de atleta. E eu era um jogador que não tinha grande velocidade. Eu tinha um arranque muito bom, mas quando a bola ia a uma distância em que eu precisava de uma velocidade maior, eu não tinha. Cabeceava mal, saltava pouco. Eu não tinha a condição física do Pelé, não era um atleta. Lembro até hoje que um grande jornalista falou que não sabia como eu jogava, porque eu não tinha nada de jogador de futebol, tinha perna curta, não era alto. Não tinha características de um grande jogador. Mas eu tinha grandes qualidades, principalmente a de jogar vendo o jogo. No segundo em que a bola chegava em mim, eu já sabia o que fazer, tinha uma visão de jogo muito grande.
"Não tinha características de um grande jogador. Mas eu tinha grandes qualidades, principalmente a de jogar vendo o jogo. No segundo em que a bola chegava em mim, eu já sabia o que fazer, tinha uma visão de jogo muito grande.”
Qual é a alternativa que reescreve o trecho destacado do texto, mantendo-lhe o significado?
Eduardo Gonçalves de Andrade, o Tostão, foi um dos maiores jogadores de futebol que o Brasil já teve, sendo comparado a Pelé. Neste trecho de entrevista, concedida em 1993, Tostão relembra momentos importantes de sua vida como jogador.
Entrevistador: Você foi o jogador de fato mais comparado ao Pelé. Eu queria saber qual o peso dessa comparação, já que o Pelé é... uma barbaridade. E como é jogar com ele? Você sentiu isso como algo diferente?
Tostão: Sem nenhuma falsa modéstia, eu nunca me aproximei do Pelé. Ele foi um jogador realmente à parte, muito acima de todos os outros jogadores de todas as épocas. O Pelé tinha tudo, todas as qualidades. Eu tinha grandes qualidades, mas algumas dificuldades. O Pelé não: cabeceava muito bem, tinha velocidade, driblava, era um jogador muito inteligente dentro do campo. Apesar de ter sido uma pessoa pobre, ele tinha um físico exemplar de atleta. E eu era um jogador que não tinha grande velocidade. Eu tinha um arranque muito bom, mas quando a bola ia a uma distância em que eu precisava de uma velocidade maior, eu não tinha. Cabeceava mal, saltava pouco. Eu não tinha a condição física do Pelé, não era um atleta. Lembro até hoje que um grande jornalista falou que não sabia como eu jogava, porque eu não tinha nada de jogador de futebol, tinha perna curta, não era alto. Não tinha características de um grande jogador. Mas eu tinha grandes qualidades, principalmente a de jogar vendo o jogo. No segundo em que a bola chegava em mim, eu já sabia o que fazer, tinha uma visão de jogo muito grande.
No texto, a frase:
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