UFF 2001 - Questões
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Duas esferas de massas $m_1$ e $m_2$$\ _{\ }$, com $m_1>m_2$, são abandonadas, simultaneamente, de uma mesma altura. As energias cinéticas dessas esferas ao atingirem o solo são, respectivamente, $E_1$ e $E_2$, sendo seus tempos de queda, respectivamente, $t_1$ e $t_2$.
Considerando desprezível a resistência do ar, é correto afirmar que:
TEXTO II
O meu fim evidente era atar as duas pontas da vida, e restaurar na velhice a adolescência (2). Pois, senhor, não consegui recompor o que foi nem o que fui (3). Em tudo, se o rosto é igual, a fisionomia é diferente (4). Se só me faltassem os outros, vá; um homem consola-se mais ou menos das pessoas que perde; mas falto eu mesmo, e esta lacuna (9) é tudo. O que aqui está é, mal comparando, semelhante à pintura (10) que se põe na barba e nos cabelos, e que apenas conserva o hábito externo, como se diz nas autópsias; o interno não aguenta tinta (12). Uma certidão (8) que me desse vinte anos de idade poderia enganar os estranhos, como todos os documentos falsos, mas não a mim (5). Os amigos que me restam são de data recente; todos os antigos foram estudar a geologia dos campos santos. Quanto às amigas, algumas datam de quinze anos, outras de menos, e quase todas creem na mocidade (7). Duas ou três fariam crer nela aos outros, mas a língua que falam obriga muita vez a consultar os dicionários, e tal frequência é cansativa (6).
Entretanto, vida diferente não quer dizer vida pior; é outra coisa. A certos respeitos, aquela vida antiga aparece-me despida de muitos encantos que lhe achei; mas é também exato que perdeu muito espinho que a fez molesta, e, de memória, conservo alguma recordação doce e feiticeira (1). Em verdade, pouco apareço e menos falo. Distrações raras. O mais do tempo é gasto em hortar, jardinar e ler; como bem e não durmo mal.
Ora, como tudo cansa, esta monotonia acabou por exaurir-me também. Quis variar, e lembrou-me escrever um livro. Jurisprudência, filosofia e política acudiram-me, mas não me acudiram as forças necessárias. Depois, pensei em fazer uma História dos Subúrbios menos seca que as memórias do padre Luís Gonçalves dos Santos relativas à cidade; era obra modesta, mas exigia documentos e datas como preliminares, tudo árido e longo. Foi então que os bustos pintados nas paredes entraram a falar-me e a dizer-me que, uma vez que eles não alcançavam reconstituir-me os tempos idos, pegasse da pena e contasse alguns. Talvez a narração me desse a ilusão, e as sombras viessem perpassar ligeiras, como ao poeta, não o do trem, mas o do Fausto: Aí vindes outra vez, inquietas sombras?... (11)
ASSIS, Machado de. Dom Casmurro. Capítulo II, Rio de Janeiro: José Aguilar, 1971, v. 1, p. 810-11.
“Talvez a narração me desse a ilusão, e as sombras viessem perpassar ligeiras, como ao poeta, não o do trem, mas o do Fausto: Aí vindes outra vez, inquietas sombras?...” (11)
Os dois pontos e o recurso gráfico do itálico no trecho acima permitem-nos a seguinte interpretação da frase “Aí vindes outra vez, inquietas sombras? ...” :
Texto I
Acompanho com assombro o que andam dizendo sobre os primeiros 500 anos do brasileiro (6). Concordo com todas as opiniões emitidas e com as minhas em primeiríssimo lugar. Tenho para mim que há dois referenciais literários para nos definir. De um lado, o produto daquilo que Gilberto Freyre chamou de casa-grande e senzala (3), o homem miscigenado, potente e tendendo a ser feliz. De outro, o Macunaíma, herói sem nenhuma definição, ou sem nenhum caráter (4) – como queria o próprio Mário de Andrade.
Fomos e seremos assim, em nossa essência, embora as circunstâncias mudem e nós mudemos com elas (8). Retomando a imagem literária, citemos a Capitu menina – e teremos como sempre a intervenção soberana de Machado de Assis.
Um rapaz da plateia me perguntou onde ficaria o homem de Guimarães Rosa – outra coordenada que nos ajuda a definir o brasileiro (5). Evidente que o universo de Rosa é sobretudo verbal, mas o homem é causa e efeito do verbo. Por isso mesmo, o personagem rosiano tem a ver com o homem de Gilberto Freyre e de Mário de Andrade. É um refugo consciente da casa-grande e da senzala, o opositor de uma e de outra, criando a sua própria vereda mas sem esquecer o ressentimento social do qual se afastou e contra o qual procura lutar (7).
É também macunaímico, pois sem definição catalogada na escala de valores culturais oriundos de sua formação racial. Nem por acaso um dos personagens mais importantes do mundo de Rosa é uma mulher que se faz passar por jagunço. Ou seja, um herói – ou heroína – sem nenhum caráter.
Tomando Gilberto Freyre como a linha vertical e Mário de Andrade como a linha horizontal de um ângulo reto, teríamos Guimarães Rosa como a hipotenusa fechando o triângulo (1). A imagem geométrica pode ser forçada, mas foi a que me veio na hora – e acho que fui entendido (2).
CONY, Carlos Heitor. Folha Ilustrada, 5º Caderno,
São Paulo, 21/04/2000, p.12.
Os diversos tipos de relação sintática entre orações podem ser estabelecidos sem conectivo explícito, através das formas de infinitivo, gerúndio ou particípio, como vemos no seguinte exemplo:
“Tomando Gilberto Freyre como a linha vertical e Mário de Andrade como a linha horizontal de um ângulo reto, teríamos Guimarães Rosa como a hipotenusa fechando o triângulo.” (1)
Reconheça o tipo de relação sintática expressa pelo gerúndio destacado no período acima.
Texto I
Acompanho com assombro o que andam dizendo sobre os primeiros 500 anos do brasileiro (6). Concordo com todas as opiniões emitidas e com as minhas em primeiríssimo lugar. Tenho para mim que há dois referenciais literários para nos definir. De um lado, o produto daquilo que Gilberto Freyre chamou de casa-grande e senzala (3), o homem miscigenado, potente e tendendo a ser feliz. De outro, o Macunaíma, herói sem nenhuma definição, ou sem nenhum caráter (4) – como queria o próprio Mário de Andrade.
Fomos e seremos assim, em nossa essência, embora as circunstâncias mudem e nós mudemos com elas (8). Retomando a imagem literária, citemos a Capitu menina – e teremos como sempre a intervenção soberana de Machado de Assis.
Um rapaz da plateia me perguntou onde ficaria o homem de Guimarães Rosa – outra coordenada que nos ajuda a definir o brasileiro (5). Evidente que o universo de Rosa é sobretudo verbal, mas o homem é causa e efeito do verbo. Por isso mesmo, o personagem rosiano tem a ver com o homem de Gilberto Freyre e de Mário de Andrade. É um refugo consciente da casa-grande e da senzala, o opositor de uma e de outra, criando a sua própria vereda mas sem esquecer o ressentimento social do qual se afastou e contra o qual procura lutar (7).
É também macunaímico, pois sem definição catalogada na escala de valores culturais oriundos de sua formação racial. Nem por acaso um dos personagens mais importantes do mundo de Rosa é uma mulher que se faz passar por jagunço. Ou seja, um herói – ou heroína – sem nenhum caráter.
Tomando Gilberto Freyre como a linha vertical e Mário de Andrade como a linha horizontal de um ângulo reto, teríamos Guimarães Rosa como a hipotenusa fechando o triângulo (1). A imagem geométrica pode ser forçada, mas foi a que me veio na hora – e acho que fui entendido (2).
CONY, Carlos Heitor. Folha Ilustrada, 5º Caderno,
São Paulo, 21/04/2000, p.12.
“É um refugo consciente da casa-grande e da senzala, o opositor de uma e de outra, criando a sua própria vereda mas sem esquecer o ressentimento social do qual se afastou e contra o qual procura lutar”. (7)
A variação no emprego da preposição com o pronome o qual, no fragmento acima, deve-se a um fato linguístico de:
As estrofes abaixo, partes do poema Canção do Tamoio, representam um momento da literatura brasileira em que se buscou, através do sentimento nativista, inspiração em elementos nacionais, especialmente nos índios e em sua civilização.
Não chores, meu filho;
Não chores, que a vida
É luta renhida:
Viver é lutar.
A vida é combate,
Que os fracos abate,
Que os fortes, os bravos,
Só pode exaltar.
Um dia vivemos!
O homem que é forte
Não teme da morte;
Só teme fugir;
No arco que entesa
Tem certa uma presa,
Quer seja tapuia,
E pois que és meu filho,
Meus brios reveste;
Tamoio nasceste,
Valente serás.
Sê duro guerreiro
Robusto, fragueiro,
Brasão dos tamoios
Na guerra e na paz.
As armas ensaia,
Penetra na vida:
Pesada ou querida,
Viver é lutar.
Se o duro combate
Os fracos abate,
Aos fortes, aos bravos,
Só pode exaltar.
GONÇALVES Dias, Poesia Completa, Rio de Janeiro: José Aguilar Ltda., 1959, p. 372.
Identifique o momento literário a que pertence o poema Canção do Tamoio.
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