UERJ 2002 Português - Questões

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“A caricatura não tem por objeto principal fazer rir. Isto é tão certo que há caricaturas lúgubres. Porque encontra o riso em seu caminho, a caricatura afinal não tem nada duma arte do riso, como têm avançado muitos autores, e assim a considera o preconceito corrente. (...) Longe de ser um testemunho da alegria, o próprio exagero caricatural não é senão um meio, nas mãos do artista, para exprimir seu rancor. Não há por que nos surpreendermos com isso. Como, realmente, à força de muito advertidos a respeito daquilo que mascara a mímica social, não cairmos em meditação cheia de desgosto? Como não nos deixarmos possuir por uma espécie de desencantamento, uma como que fadiga da alma, à custa de muito vermos e de vermos muito bem?”

(GAULTIER, Paul. In: LIMA, Herman. História da caricatura no Brasil. Rio de Janeiro: José Olympio, 1963.)

Porque encontra o riso em seu caminho, a caricatura afinal não tem nada duma arte do riso...

Neste trecho, percebemos que o conectivo “porque” está sendo empregado com um significado diferente do usual. A substituição do conectivo que preserva o sentido original do trecho é


“Comenta-se, um pouco rápido demais, que a predileção que os leitores sentimos por um ou outro personagem vem da facilidade com que nos identificamos com eles. Esta formulação exige algumas pontuações: não é que nos identifiquemos com o personagem, mas sim que este nos identifica, nos aclara e define frente a nós mesmos; algo em nós se identifica com essa individualidade imaginária, algo contraditório com outras identificações semelhantes, algo que de outro modo apenas em sonhos haveria logrado estatuto de natureza. A paixão pela literatura é também uma maneira de reconhecer que cada um somos muitos, e que dessa raiz, oposta ao senso comum em que vivemos, brota o prazer literário.”

(Traduzido de SAVATER, Fernando. Criaturas dei aire. Barcelona: Ediciones Destino, 1989.)

Este texto trata de um conceito importante na teoria da literatura: o conceito de catarse. De acordo com o autor, pode-se definir catarse como o processo que afeta o leitor no sentido de


Observe atentamente os dois trechos transcritos abaixo.

“... o objetivo da poesia (e da arte literária em geral) não é o real concreto, o verdadeiro, aquilo que de fato aconteceu, mas sim o verossímil, o que pode acontecer, considerado na sua universalidade.”

(SILVA, Vítor M. de A. Teoria da Literatura. Coimbra: Almedina, 1982.)

Verossímil. 1. Semelhante à verdade; que parece verdadeiro. 2. Que não repugna à verdade, provável.

(FERREIRA, A. B. de Holanda. Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986.)

A partir da leitura de ambos os fragmentos, pode-se deduzir que a obra literária tem o seguinte objetivo


EM DEFESA DA RAZÃO

Estou chegando aos 70 anos. Minha geração assistiu a mais revoluções científicas, tecnológicas e sociais do que todas as gerações anteriores. Com essa experiência de vida, preocupa-me o que estamos deixando para os nossos netos: um mundo onde as pessoas desconfiam dos cientistas e se entregam às crendices. Um mundo de violência, injustiça e desencanto, que abre espaço para a exploração do desespero da população.

Durante décadas, lutei desesperadamente para trazer racionalidade às gerações que me sucederiam, acreditando na ciência e em suas conquistas. A caminhada do homem na Lua, as fotos dos planetas distantes, os computadores, a televisão direta dos satélites, as vacinas que eliminaram da face da Terra a varíola e a poliomielite, os remédios desenhados em computadores que curam o câncer quando detectado a tempo, os transplantes de coração e rins, a biotecnologia gerando plantas mais resistentes e mais produtivas, que liquidaram com a profecia de Malthus, afastando o perigo da fome universal. E, apesar disso, o que colhemos? Uma geração de crédulos sem capacidade crítica.

Até mesmo as pessoas que seguiram carreira Técnico-científica não entendem a racionalidade da ciência. Consomem toneladas de pseudomedicamentos sem nenhum efeito positivo para o organismo. Engolem comprimidos de vitaminas que serão eliminadas na urina. Consomem extratos de plantas com substâncias tóxicas e abandonam o tratamento médico. Gastam fortunas com diferentes marcas de xampu que contêm sempre o mesmo detergente, mas anunciam “alimentos” para os cabelos, quando estes recebem nutrientes diretamente do sangue que irriga suas raízes. Há os que untam o rosto com colágeno – geleia de mocotó – e ovos e acham que estão rejuvenescendo.

Fui professor de colégio e de faculdade de medicina. Fiz pesquisas, formei uma dúzia de discípulos que hoje pesquisam, são professores universitários e já criaram meia centena de meus netos intelectuais. Na universidade, desenvolvi um novo modelo de ensino médio.

Revolucionei o ensino das ciências nas escolas e improvisei na televisão o primeiro programa de ensino de ciência. Produzimos novos livros substituindo totalmente o conteúdo do ensino.

Por tudo isso, fico pasmado ao ver que, às portas do ano 2000, as pessoas leem horóscopos sem jamais comparar as previsões da véspera com o que realmente aconteceu. Desconfiam dos cientistas, mas acreditam nas cartomantes, que preveem o óbvio. Formamos uma geração de pseudoeducados, que querem ser enganados nas farmácias, pelos curandeiros que enfiam agulhas em seus pés e manipulam sua coluna, pelos ufologistas, que veem extraterrestres chegar e sair sem ser detectados pelos radares. Uma geração que se deixa levar por benzedeiras e charlatães com suas poções, por anúncios desonestos na televisão e por pregadores a quem entregam parte do salário. Saem as descobertas e as experiências científicas e entram os duendes, anjos e bruxos.

Mas nem tudo está perdido. Ainda há quem encontre motivação para se guiar pelo racionalismo e pela ciência – e para mudar. E há muito que fazer. É preciso combater o irracionalismo e as mistificações, onde quer que eles se manifestem: na televisão, nos locais de trabalho, nas faculdades. Podemos começar pela educação. Hoje, as pessoas passam um terço da vida nas salas de aula sem aprender e ninguém se importa. Criamos robôs que nos permitem ter uma produção cada vez maior de bens, mas ficamos prisioneiros de uma sociedade cada vez menos justa. Numa sociedade em que a ciência expandiu a longevidade do homem, não oferecemos à maioria da população segurança física nem acesso ao que a medicina moderna pode oferecer – nem mesmo a garantia de teto e comida.

Enfim, criamos um campo propício para a proliferação dos enganadores. Está na hora de quebrar a insensibilidade dos governos e das lideranças para tentar corrigir isso. Não será nos entregando à irracionalidade que sairemos desse buraco e construiremos um futuro melhor para os nossos netos.

(RAW, Isaias. Veja, 09/04/1996.)

Para criticar o comportamento da nova geração, o autor utiliza, na construção do texto, uma estratégia que demonstra seu distanciamento em relação ao misticismo e ao irracionalismo. Pode-se afirmar que essa estratégia se constrói fundamentalmente a partir do seguinte dado fornecido pelo texto


EM DEFESA DA RAZÃO

Estou chegando aos 70 anos. Minha geração assistiu a mais revoluções científicas, tecnológicas e sociais do que todas as gerações anteriores. Com essa experiência de vida, preocupa-me o que estamos deixando para os nossos netos: um mundo onde as pessoas desconfiam dos cientistas e se entregam às crendices. Um mundo de violência, injustiça e desencanto, que abre espaço para a exploração do desespero da população.

Durante décadas, lutei desesperadamente para trazer racionalidade às gerações que me sucederiam, acreditando na ciência e em suas conquistas. A caminhada do homem na Lua, as fotos dos planetas distantes, os computadores, a televisão direta dos satélites, as vacinas que eliminaram da face da Terra a varíola e a poliomielite, os remédios desenhados em computadores que curam o câncer quando detectado a tempo, os transplantes de coração e rins, a biotecnologia gerando plantas mais resistentes e mais produtivas, que liquidaram com a profecia de Malthus, afastando o perigo da fome universal. E, apesar disso, o que colhemos? Uma geração de crédulos sem capacidade crítica.

Até mesmo as pessoas que seguiram carreira Técnico-científica não entendem a racionalidade da ciência. Consomem toneladas de pseudomedicamentos sem nenhum efeito positivo para o organismo. Engolem comprimidos de vitaminas que serão eliminadas na urina. Consomem extratos de plantas com substâncias tóxicas e abandonam o tratamento médico. Gastam fortunas com diferentes marcas de xampu que contêm sempre o mesmo detergente, mas anunciam “alimentos” para os cabelos, quando estes recebem nutrientes diretamente do sangue que irriga suas raízes. Há os que untam o rosto com colágeno – geleia de mocotó – e ovos e acham que estão rejuvenescendo.

Fui professor de colégio e de faculdade de medicina. Fiz pesquisas, formei uma dúzia de discípulos que hoje pesquisam, são professores universitários e já criaram meia centena de meus netos intelectuais. Na universidade, desenvolvi um novo modelo de ensino médio.

Revolucionei o ensino das ciências nas escolas e improvisei na televisão o primeiro programa de ensino de ciência. Produzimos novos livros substituindo totalmente o conteúdo do ensino.

Por tudo isso, fico pasmado ao ver que, às portas do ano 2000, as pessoas leem horóscopos sem jamais comparar as previsões da véspera com o que realmente aconteceu. Desconfiam dos cientistas, mas acreditam nas cartomantes, que preveem o óbvio. Formamos uma geração de pseudoeducados, que querem ser enganados nas farmácias, pelos curandeiros que enfiam agulhas em seus pés e manipulam sua coluna, pelos ufologistas, que veem extraterrestres chegar e sair sem ser detectados pelos radares. Uma geração que se deixa levar por benzedeiras e charlatães com suas poções, por anúncios desonestos na televisão e por pregadores a quem entregam parte do salário. Saem as descobertas e as experiências científicas e entram os duendes, anjos e bruxos.

Mas nem tudo está perdido. Ainda há quem encontre motivação para se guiar pelo racionalismo e pela ciência – e para mudar. E há muito que fazer. É preciso combater o irracionalismo e as mistificações, onde quer que eles se manifestem: na televisão, nos locais de trabalho, nas faculdades. Podemos começar pela educação. Hoje, as pessoas passam um terço da vida nas salas de aula sem aprender e ninguém se importa. Criamos robôs que nos permitem ter uma produção cada vez maior de bens, mas ficamos prisioneiros de uma sociedade cada vez menos justa. Numa sociedade em que a ciência expandiu a longevidade do homem, não oferecemos à maioria da população segurança física nem acesso ao que a medicina moderna pode oferecer – nem mesmo a garantia de teto e comida.

Enfim, criamos um campo propício para a proliferação dos enganadores. Está na hora de quebrar a insensibilidade dos governos e das lideranças para tentar corrigir isso. Não será nos entregando à irracionalidade que sairemos desse buraco e construiremos um futuro melhor para os nossos netos.

(RAW, Isaias. Veja, 09/04/1996.)

Observe o enunciado abaixo:

“Em suma: toda declaração (ou juízo) que expresse opinião pessoal ou pretenda estabelecer a verdade só terá validade se devidamente demonstrada, isto é, se apoiada ou fundamentada na evidência dos fatos, quer dizer, se acompanhada de prova.”

(GARCIA, Othon M. Comunicação em prosa moderna. Rio de Janeiro: FGV, 1999.)

Em sua crítica ao que caracteriza como crendice ou irracionalismo, o autor do texto Em defesa da razão faz diversas declarações. O exemplo de declaração feita no texto que mais se aproxima do critério de validade, conforme o enunciado transcrito, é


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