EPCAR 2000 Português - Questões
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TEXTO I
No Asilo
“- Meu filho me deixou aqui, mas ele vem me buscar. É, ele vem me buscar. Não gosto daqui porque é longe, a gente fica sozinha, não tem ônibus. Olha o vestido que eu fiz pra minha neta, olha a coroa, ela vai coroar Nossa Senhora.
- E quando a senhora vai levar essas coisas lindas pra ela?
- Ah, minha filha, não sei. Meu filho vem me buscar. Ele me trouxe só por uns dias. Sabe, tenho um gênio nervoso e minha nora também. Aí...
- Há quantos meses a senhora está aqui?
Faz mais de 12 anos. Desde a outra casa. Lá era bom, porque era dentro da rua.”
(Funarte/Fundação Clóvis Salgado. Fazendo arte em creches e asilos.)
Esse texto foi transcrito de uma entrevista gravada num asilo de Belo Horizonte. A entrevistada, na época, tinha 75 anos. Percebe-se que sua principal fantasia era
TEXTO I
No Asilo
“- Meu filho me deixou aqui, mas ele vem me buscar. É, ele vem me buscar. Não gosto daqui porque é longe, a gente fica sozinha, não tem ônibus. Olha o vestido que eu fiz pra minha neta, olha a coroa, ela vai coroar Nossa Senhora.
- E quando a senhora vai levar essas coisas lindas pra ela?
- Ah, minha filha, não sei. Meu filho vem me buscar. Ele me trouxe só por uns dias. Sabe, tenho um gênio nervoso e minha nora também. Aí...
- Há quantos meses a senhora está aqui?
Faz mais de 12 anos. Desde a outra casa. Lá era bom, porque era dentro da rua.”
(Funarte/Fundação Clóvis Salgado. Fazendo arte em creches e asilos.)
Assinale a única afirmativa INCORRETA em relação ao texto.
TEXTO I
No Asilo
“- Meu filho me deixou aqui, mas ele vem me buscar. É, ele vem me buscar. Não gosto daqui porque é longe, a gente fica sozinha, não tem ônibus. Olha o vestido que eu fiz pra minha neta, olha a coroa, ela vai coroar Nossa Senhora.
- E quando a senhora vai levar essas coisas lindas pra ela?
- Ah, minha filha, não sei. Meu filho vem me buscar. Ele me trouxe só por uns dias. Sabe, tenho um gênio nervoso e minha nora também. Aí...
- Há quantos meses a senhora está aqui?
Faz mais de 12 anos. Desde a outra casa. Lá era bom, porque era dentro da rua.”
(Funarte/Fundação Clóvis Salgado. Fazendo arte em creches e asilos.)
Leia atentamente as afirmativas abaixo, escreva V (verdadeiro) ou F (falso) e, a seguir, marque a alternativa correspondente.
( ) No asilo, ela se tornara irritada e amarga.
( ) Percebe-se a intenção do filho de buscá-la um dia.
( ) Ela sentia falta da família e não do movimento da rua.
( ) Aquele era o segundo asilo em que vivia a entrevistada.
TEXTO I
No Asilo
“- Meu filho me deixou aqui, mas ele vem me buscar. É, ele vem me buscar. Não gosto daqui porque é longe, a gente fica sozinha, não tem ônibus. Olha o vestido que eu fiz pra minha neta, olha a coroa, ela vai coroar Nossa Senhora.
- E quando a senhora vai levar essas coisas lindas pra ela?
- Ah, minha filha, não sei. Meu filho vem me buscar. Ele me trouxe só por uns dias. Sabe, tenho um gênio nervoso e minha nora também. Aí...
- Há quantos meses a senhora está aqui?
Faz mais de 12 anos. Desde a outra casa. Lá era bom, porque era dentro da rua.”
(Funarte/Fundação Clóvis Salgado. Fazendo arte em creches e asilos.)
TEXTO II
RETRATO DE VELHO
Tem horror a criança. Solenemente, faz queixa do bisneto, que lhe sumiu com a palha de cigarro, para vingar-se de seus ralhos intempestivos. Menino é bicho ruim, comenta. Ao chegar a avô, era terno e até meloso, mas a idade o torna coriáceo.
No trocar de roupa, atira ao chão as peças usadas. Alguém as recolhe à cesta, para lavar. Ele suspeita que pretendem subtraí-las, vai à cesta, vasculha, retira o que é seu, lava-o, passa-o. Mal, naturalmente.
- Da próxima vez que ele vier, diz a nora, terei de fechar o registro, para evitar que ele desperdice água.
Espanta-se com os direitos concedidos às empregadas. Onde se viu? Isso aqui é o paraíso das criadas. A patroa acorda cedo, para despertar a cozinheira. Ele se levanta mais cedo ainda, e vai acordar a dona da casa:
- Acorda, sua mandriona, o dia já clareou!
As empregadas reagem contra a tirania, despedem-se. E sem empregadas, sua presença ainda é mais terrível.
As netas adolescentes recebem amigos. Um deles, o pintor, foi acometido de mal súbito e teve de deitar-se na cama de uma das garotas. Indignação: Que pouca-vergonha é essa? Esse bandalho aí conspurcando o leito de uma virgem? Ou quem sabe se nem é mais virgem?
- Vovô, o senhor é um monstro!
E é um custo impedir que ele escaramuce o doente para fora de casa.
- A senhora deixa suas filhas irem ao baile sozinhas com rapazes? Diga, a senhora deixa?
- Não vão sozinhas, vão com os rapazes.
- Pior ainda! Muito pior! A obrigação dos pais é acompanhar as filhas a tudo quanto é festa.
- Papai, a gente nem pode entrar lá com as meninas. É coisa de brotos.
- É, não é? Pois me dá depressa o chapéu para eu ir lá dizer poucas e boas!
Não se sabe o que fazer dele. Que fim se pode dar a velhos implicantes? O jeito é guardá-lo por três meses e deixá- lo ir para outra casa, brigado. Mais três meses, e nova mudança nas mesmas condições. O velho é duro:
- Vocês me deixam esbodegado, vocês são insuportáveis! - queixa-se ao sair. Mas volta.
- Descobri que paciência é uma forma de amor - diz-me uma das filhas, sorrindo.
(Carlos Drummond de Andrade)
Assinale a opção que expõe a ideia-núcleo do texto.
TEXTO I
No Asilo
“- Meu filho me deixou aqui, mas ele vem me buscar. É, ele vem me buscar. Não gosto daqui porque é longe, a gente fica sozinha, não tem ônibus. Olha o vestido que eu fiz pra minha neta, olha a coroa, ela vai coroar Nossa Senhora.
- E quando a senhora vai levar essas coisas lindas pra ela?
- Ah, minha filha, não sei. Meu filho vem me buscar. Ele me trouxe só por uns dias. Sabe, tenho um gênio nervoso e minha nora também. Aí...
- Há quantos meses a senhora está aqui?
Faz mais de 12 anos. Desde a outra casa. Lá era bom, porque era dentro da rua.”
(Funarte/Fundação Clóvis Salgado. Fazendo arte em creches e asilos.)
TEXTO II
RETRATO DE VELHO
Tem horror a criança. Solenemente, faz queixa do bisneto, que lhe sumiu com a palha de cigarro, para vingar-se de seus ralhos intempestivos. Menino é bicho ruim, comenta. Ao chegar a avô, era terno e até meloso, mas a idade o torna coriáceo.
No trocar de roupa, atira ao chão as peças usadas. Alguém as recolhe à cesta, para lavar. Ele suspeita que pretendem subtraí-las, vai à cesta, vasculha, retira o que é seu, lava-o, passa-o. Mal, naturalmente.
- Da próxima vez que ele vier, diz a nora, terei de fechar o registro, para evitar que ele desperdice água.
Espanta-se com os direitos concedidos às empregadas. Onde se viu? Isso aqui é o paraíso das criadas. A patroa acorda cedo, para despertar a cozinheira. Ele se levanta mais cedo ainda, e vai acordar a dona da casa:
- Acorda, sua mandriona, o dia já clareou!
As empregadas reagem contra a tirania, despedem-se. E sem empregadas, sua presença ainda é mais terrível.
As netas adolescentes recebem amigos. Um deles, o pintor, foi acometido de mal súbito e teve de deitar-se na cama de uma das garotas. Indignação: Que pouca-vergonha é essa? Esse bandalho aí conspurcando o leito de uma virgem? Ou quem sabe se nem é mais virgem?
- Vovô, o senhor é um monstro!
E é um custo impedir que ele escaramuce o doente para fora de casa.
- A senhora deixa suas filhas irem ao baile sozinhas com rapazes? Diga, a senhora deixa?
- Não vão sozinhas, vão com os rapazes.
- Pior ainda! Muito pior! A obrigação dos pais é acompanhar as filhas a tudo quanto é festa.
- Papai, a gente nem pode entrar lá com as meninas. É coisa de brotos.
- É, não é? Pois me dá depressa o chapéu para eu ir lá dizer poucas e boas!
Não se sabe o que fazer dele. Que fim se pode dar a velhos implicantes? O jeito é guardá-lo por três meses e deixá- lo ir para outra casa, brigado. Mais três meses, e nova mudança nas mesmas condições. O velho é duro:
- Vocês me deixam esbodegado, vocês são insuportáveis! - queixa-se ao sair. Mas volta.
- Descobri que paciência é uma forma de amor - diz-me uma das filhas, sorrindo.
(Carlos Drummond de Andrade)
Relacione o texto I com o texto II e escreva nas sentenças abaixo V (verdadeira) e F (falsa). A seguir, marque a opção correspondente.
( ) A velhice é o núcleo temático dos dois textos.
( ) Em ambos os casos, os velhos padecem de solidão.
( ) Os dois textos apontam conflitos entre os idosos e seus familiares.
( ) A grande diferença entre os dois casos está na forma de a família reagir ao conflito.
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