Leia o texto a seguir.
Cumpre ainda acrescentar que essa cordialidade, estranha, por um lado, a todo formalismo e convencionalismo social, não abrange, por outro, apenas obrigatoriamente, sentimentos positivos e de concórdia. A inimizade bem pode ser tão cordial como a amizade, visto que uma e outra nascem do coração, e procedem, assim, da esfera do íntimo, do familiar, do privado. Nenhum povo está mais distante dessa noção ritualista da vida do que o brasileiro. Nada mais significativo dessa aversão ao ritualismo social, que exige, por vezes, uma personalidade fortemente homogênea e equilibrada em todas as suas partes, do que a dificuldade em que se sentem, geralmente, os brasileiros, de uma reverência prolongada ante um superior. Nosso temperamento admite fórmulas de reverência, e até de bom grado, mas quase somente enquanto não suprimam de todo a possibilidade de convívio mais familiar. Para o funcionário “patrimonial”, a própria gestão política apresenta-se como assunto de seu interesse particular. As funções, os empregos e os benefícios que deles aufere, relacionam-se a direitos pessoais do funcionário e não a interesses objetivos, como sucede no verdadeiro Estado burocrático, em que prevalecem a especialização das funções e o esforço para se assegurarem garantias jurídicas aos cidadãos.
(Adaptado de: HOLANDA, S. B. Raízes do Brasil. 13.ed. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1979. p.105-108.)
O pensador brasileiro Sérgio Buarque de Holanda desenvolveu sua noção de "homem cordial" em Raízes do Brasil.
A partir desse trecho da obra, identifique e explique as três características básicas ligadas a essa noção.