Charles Wright Mills, sociólogo americano, em seu livro A Imaginação Sociológica (1959), propõe uma ciência crítica frente às questões públicas, uma qualidade intelectual herdada dos fundadores da Sociologia, que consiste em “sentir o jogo que se processa entre os homens e a sociedade, a biografia e a história, o eu e o mundo” (MILLS, 1959, p.10), uma análise que se desloca da esfera individual (de existência) para a esfera pública e vice-versa. Nesse sentido, a fala do sociólogo brasileiro Luiz Werneck Vianna, ao comentar passagens de sua infância, contém elementos da “imaginação sociológica”.
Eu sou de outubro de 1938. Nasci no Rio de Janeiro, na véspera da Segunda Guerra Mundial, e quando ela acabou eu tinha sete anos. De algum modo, a guerra foi significativa para mim e, creio, para a minha geração. Fatos: conheci black out. E havia sempre em casa alguém contra a imprudência de se acender um fósforo, porque era proibido. Outro fato: eu tinha um vizinho, não sei se alemão ou descendente de alemães, que ouvia noticiário da Alemanha. Eram tempos conturbados, vivia-se um clima de pânico, de radicalização política, inclusive pela vigência do Estado Novo. Nasci, portanto, sob o signo da política. Lembro-me que, logo depois da guerra, andando com a minha mãe pelas ruas de Ipanema, onde morávamos, presenciamos um quebra-quebra assustador. Classe média contra a carestia.
Adaptado de: BASTOS, E. R. et al. Conversas com sociólogos brasileiros. São Paulo: Editora 34 Ltda., 2006. p.161.
Com base no enunciado e no texto,
a) diferencie “esfera particular” (ou “de existência”) de “esfera pública”.
b) identifique 3 questões públicas citadas por Luiz Werneck Vianna.