De frente pro crime

“Tá lá o corpo estendido no chão

Em vez de rosto uma foto de um gol

Em vez de reza uma praga de alguém

E um silêncio servindo de amém

O bar mais perto depressa lotou

Malandro junto com trabalhador

Um homem subiu na mesa do bar

E fez discurso pra vereador

E veio o camelô vender

Anel, cordão, perfume barato

Baiana pra fazer pastel

E um bom churrasco de gato

Quatro horas da manhã

Baixou um santo na porta bandeira

E a moçada resolveu

Parar, e então

Tá lá o corpo estendido no chão

Em vez de rosto uma foto de um gol

Em vez de reza uma praga de alguém

E um silêncio servindo de amém

Depressa foi cada um pro seu lado

Pensando numa mulher ou no time

Olhei o corpo no chão e fechei

Minha janela de frente pro crime....”

(BLANC, Aldir; BOSCO, João. Caça à Raposa. Rio de Janeiro: Gravadora RCA Victor, 1975, L.A.)

Ao traçar um paralelo entre os substantivos “rosto”, “reza” e “amém”, de um lado, e “foto”, “praga” e “silêncio”, de outro, o estribilho relaciona a crueza da realidade à: