Trata-se do parágrafo introdutório de um livro de Alba Zaluar sobre a violência urbana no Rio de Janeiro.

O lugar não importa. Pode ser qualquer um, contanto que seja pobre e marginal a esta outrora encantadora cidade. Nele fiquei mais de um ano convivendo e conversando com os supostos agentes da violência urbana. Alguns por serem simples moradores do lugar. Pois o que é para nós, além de um grande medo, assunto jornalístico, para eles é nódoa contra a qual têm que lutar diariamente, até com eles próprios na frente do espelho que certa imprensa lhes montou. Mais um estigma que, na pressa de descobrir os culpados alhures, se lhes impôs. Outros porque realmente traficam, assaltam e fazem uso da arma de fogo. Eu os vi, observei, escutei e deles ouvi contar muitas estórias. Durante todo esse tempo ouvi também explicações, ou seja, tentativas de encaixar o que para eles pode vir a ser uma terrível tragédia pessoal numa lógica qualquer, na ordem das coisas deste mundo. É claro. Todo mundo sabe o fim dos bandidos pobres: morrer antes dos 25 anos. E ninguém quer ver seu filho, seu irmão, seu parente ou seu vizinho com este destino, embora haja quem acredite que este caminho não é escolha, é sina. Talvez seja o modo que encontram para dizer que as condições em que vivem os levam forçosamente a agir assim.

ZALUAR, Alba. Condomínio do diabo. Rio de Janeiro: Editora da UFRJ, 1994. p. 7.

No texto, a expressão “na frente do espelho que certa im prensa lhes montou” refere-se