Não faz tanto tempo assim, a noção de risco, como hoje a conhecemos, não existia. Doenças e mortes eram consideradas inevitáveis conseqüências de um destino divinamente planejado, sobre o qual não possuíamos controle. As pessoas não pesavam as conseqüências da escolha de sua carreira, do uso de tecnologias ou das políticas sociais simplesmente porque essas opções não existiam. O risco era uma província povoada por jogadores de dados e cartas, aliás a medi-lo e a manipulá-lo. A emergência do capitalismo globalizado, junto com a ciência e a tecnologia, trouxe benefícios inegáveis à agricultura, aos transportes e à saúde. Mas também nos transformou em jogadores numa escala jamais vista. Durante o século XX, contemplamos o lado negativo de avanços tecnológicos que foram instrumento de guerras e atrocidades. Aprendemos a temer acidentes, poluição, extinção de espécies, desmatamento, lixo atômico, além da contaminação da água e dos alimentos com agrotóxicos. Agora, na medida em que entramos no século XXI, deparamos com estonteantes possibilidades tecnológicas: clonagem, membros cibernéticos para repor componentes humanos, alimentos geneticamente modificados. Naturalmente questionamos se implicará riscos imprevisíveis.

(Andrea Kauffmann-Zeh. A miopia científica, Revista Época, 30/4/2001, p. 114.)

As expressões e referem-se, respectivamente, a: