O Romualdo tinha nascido, talvez, para os mais altos destinos; mas como os pais se esqueceram de mandar educá-lo, e ele mal sabia ler e escrever, o mais que arranjou foi ser soldado do exército, e, depois de obtida a sua baixa, contínuo de secretaria.
Releva dizer que o Romualdo só deixou crescer as barbas depois de contínuo; se as usasse quando era soldado e guerreava no Paraguai, chegaria a capitão pelo menos.
Mas que contínuo! Alto, gordo, ereto, com aquelas opulentas suíças brancas a emoldurar-lhe a cara, sem bigodes, mais parecia um magistrado, cuja figura estava ao pintar para presidir a um júri sensacional, e essa ilusão só se desfazia quando ele falava, porque o Romualdo, benza-o Deus! por mais que compusesse a sua fisionomia austera e veneranda, tinha o estilo e a prosápia do “povo da lira”. Calado era um juiz; falando, um capadócio.
(Arthur Azevedo. As Barbas do Romualdo, em: www.releituras.com.br/aazevedo_barbas.asp)
A construção de sentido no texto assenta-se, sobretudo, na evidente contradição do personagem Romualdo, que