Porque há desejo em mim, é tudo cintilância.

Antes, o cotidiano era um pensar alturas

Buscando Aquele Outro decantado

Surdo à minha humana ladradura.

Visgo e suor, pois nunca se faziam.

Hoje, de carne e osso, laborioso, lascivo

Tomas-me o corpo. E que descanso me dás

Depois das lidas. Sonhei penhascos

Quando havia o jardim aqui ao lado.

Pensei subidas onde não havia rastros.

IV

... Por que não posso

Pontilhar de inocência e poesia

Ossos, sangue, carne, o agora

E tudo isso em nós que se fará disforme?

Um homem do mundo me perguntou:

O que você pensa de sexo?

Uma das maravilhas da criação, eu respondi.

Ele ficou atrapalhado, porque confunde as coisas

E esperava que eu dissesse maldição,

Só porque antes lhe confiara: o destino do homem é a santidade.

Comparando os poemas de Adélia Prado e de Hilda Hilst, pode-se afirmar que sexo, para o eu lírico de cada um deles, representa, respectivamente,