Leia o trecho a seguir, de Machado de Assis. Trata-se da parte final do conto Noite de Almirante.

Deolindo saíra a trabalho em viagem marítima, deixando em terra Genoveva. Ambos haviam feito jura de fidelidade. Ao voltar, Deolindo encontra sua amada já morando com outro. Após o momento inicial de ira e desespero, seus ânimos arrefecem.

Deolindo seguiu, praia fora, cabisbaixo e lento, não já o rapaz impetuoso da tarde, mas com um ar velho e triste, ou, para usar outra metáfora de marujo, como um homem “que vai do meio do caminho para terra”. Genoveva entrou logo depois, legre e barulhenta. Contou à outra a anedota dos seus amores marítimos, gabou muito o gênio do Deolindo e os seus bonitos modos; a amiga declarou achá-lo grandemente simpático.

Muito bom rapaz, insistiu Genoveva. Sabe o que ele me disse agora?

Que foi?

Que vai matar-se.

Jesus!

Qual o quê! Não se mata não. Deolindo é assim mesmo; diz as cousas, mas não faz.Você verá que não se mata. Coitado, são ciúmes. Mas os brincos são muito engraçados.

Eu aqui ainda não vi destes.

Nem eu, concordou Genoveva, examinando-os à luz. Depois guardou-os e convidou a outra a coser.— Vamos coser um bocadinho, quero acabar o meu corpinho azul...

A verdade é que o marinheiro não se matou. No dia seguinte, alguns dos companheiros bateram-lhe no ombro, cumprimentando- o pela noite de almirante, e pediram-lhe notícias de Genoveva, se estava mais bonita, se chorara muito na ausência, etc. Ele respondia a tudo com um sorriso satisfeito e discreto, um sorriso de pessoa que viveu uma grande noite.

Parece que teve vergonha da realidade e preferiu mentir.

A desilusão amorosa de Deolindo aparece, no final do texto, sob a forma de