O Menino da Porteira

Toda a vez que eu viajava

Pela estrada de Ouro Fino,

De longe eu avistava

A figura de um menino,

Que corria abri[r] a porteira

Depois vinha me pedindo:

— Toque o berrante, seu moço,

Que é p’ra mim ficá[ar] ouvindo.

[...]

(Luisinho, Limeira e Zezinha, 1955.)

Meu bem querer

Meu bem-querer

É segredo, é sagrado,

Está sacramentado

Em meu coração.

Meu bem-querer

Tem um quê de pecado

Acariciado pela emoção.

Meu bem-querer, meu encanto,

Tô sofrendo tanto, amor.

E o que é o sofrer

Para mim, que estou

Jurado p’ra morrer de amor?

(Djavan. Alumbramento. Emi-Odeon. 1980.)

O menino da porteira, cururu gravado em 1955, mostra-se como um significativo exemplo de projeção da linguagem oral cotidiana na poesia-canção popular brasileira. Observe o verso “Que é p’ra mim ficá[ar] ouvindo”, e compare-o com o verso “Pra mim, que estou”, de Djavan. Num deles ocorre um fato linguístico que a gramática normativa considera “erro de português”. A indicação do “erro” e a “correção” correspondente estão em