Aumenta o número de adultos que não consegue(35) focar(28) sua atenção em uma única coisa por muito tempo. São tantos os estímulos e tanta a pressão para que o entorno seja completamente desvendado que aprendemos a ver e/ou fazer várias coisas ao mesmo tempo.(45) Nós nos tornamos, à semelhança(39) dos computadores,(46) pessoas multitarefa, não é verdade?
Vamos tomar como exemplo uma pessoa dirigindo.(54) Ela precisa estar atenta aos veículos que vêm atrás, ao lado e à frente,(9) à velocidade média dos carros(4) por onde trafega, às orientações do GPS(50) ou de programas que sinalizam o trânsito em tempo real, às informações de alguma emissora de rádio que comenta(32) o trânsito, ao planejamento mental(6) feito e refeito várias vezes do trajeto que deve fazer para chegar ao seu destino,(21) aos semáforos, faixas de pedestres etc.(10)
Quando me vejo em tal situação,(41) eu me lembro que dirigir, após um dia(20) de intenso trabalho no retorno para casa,(59) já foi uma atividade prazerosa(15) e desestressante.
O uso da internet ajudou a transformar nossa maneira(19) de olhar para o mundo. Não mais observamos os detalhes, por causa(24) de nossa ganância em relação a novas e diferentes informações.(1) Quantas vezes sentei em frente ao computador para buscar textos sobre um tema(58) e, de repente, me dei conta de que estava(47) em temas(25) que em nada se relacionavam(48) com meu tema primeiro.(16)
Aliás, a leitura também sofreu transformações pelo nosso costume de ler na internet. Sofremos de uma tentação permanente de pular(17) palavras e frases inteiras, apenas para irmos direto ao ponto.(43) O problema é que alguns textos exigem a leitura atenta(23) de palavra por palavra, de frase por frase, para que faça sentido. Aliás, não é a combinação e a sucessão das palavras que dá sentido e beleza a um texto?(5)
Se está difícil para nós,(31) adultos,(38) focar nossa atenção,(56) imagine, caro leitor,(40) para as crianças. Elas já nasceram neste mundo de profusão(29) de estímulos(3) de todos os tipos; (2) elas são exigidas, desde o início da vida, a dar conta de várias coisas(8) ao mesmo tempo; elas são estimuladas com diferentes objetos, sons, imagens etc.
Ai, um belo dia elas vão para a escola.(60) Professores e pais, a partir de então, querem que as crianças prestem atenção em uma única coisa por muito tempo. E quando elas não conseguem, reclamamos, levamos ao médico, arriscamos hipóteses de que sejam portadoras de síndromes(42) que exigem tratamento etc.
A maioria dessas crianças sabe focar sua atenção, sim.(57) Elas já sabem usar programas complexos em seus aparelhos eletrônicos, brincam com jogos desafiantes que exigem atenção constante aos detalhes e, se deixarmos, passam horas(11) em uma única atividade de que gostam.(22)
Mas, nos estudos, queremos que elas prestem(36) atenção(18) no que é preciso, e não no que gostam.(27) E isso, caro leitor, exige(30) a árdua aprendizagem(52) da autodisciplina. Que leva tempo, é bom lembrar.
As crianças precisam de nós, pais e professores,(53) para começar a aprender isso.(37) Aliás, boa parte desse trabalho é nosso, e não delas.(34)
Não basta mandarmos que elas prestem atenção: isso de nada as ajuda.(13) O que pode ajudar, por exemplo, é analisarmos(55) o contexto em que estão quando precisam focar a atenção(14) e organizá-lo(49) para que seja favorável(26) a tal exigência.(44) E é preciso lembrar(7) que não se pode esperar toda a atenção delas por muito tempo(12): o ensino desse quesito no mundo de hoje(33) é um processo lento e gradual.(51)
SAYÃO, Rosely. Profusão de estímulos. Folha de São Paulo, 11 fev. 2014 - adaptado.
Em qual opção a regência do termo em destaque apresenta um desvio da modalidade padrão da língua?