TEXTO 1
“Reconheço”, disse o homem, “fui um poluidor implacável. Matei todo tipo de bicho, criei todo tipo de lixo, transformei bom oxigênio em ar irrespirável.”
E suspirou, contrito, envenenando mais um litro.
“Nem sei quanto spray usei, mas aposto meu patrimônio: há um buraco com meu nome na tal camada de ozônio.”
“Florestas foram arrasadas para me dar calor e notícia. Sem falar nos troncos de lei em que canivetei que amava uma tal de Letícia.”
“Fui um flagelo sem dó, uma horda de hunos de um só.”
“Transformei rios em cloacas e cloacas em rios de sujeira, em transbordante nojeira. ‘Abaixo o ecossitema´ foi, eu quase diria, meu lema.”
“Fui um Átila irreciclável, um biodesagradável.”
“Agredi a natureza. Destruí a sua beleza.”
“Mas, em compensação, em matéria de devastação, de agressão e desatino...” (mostrando suas próprias rugas, sua calvície, sua velhice): “... vejam o que Ela fez com este menino.”
(VERISSIMO, L. F. Jornal Zero Hora, 26/08/1990.)
TEXTO 2
“Quando eu era bem pequena, meus pais me levaram para passear na praia, num lugar que tinha mar e luz. Tudo era bonito e alegre: a areia, as conchinhas, as ondas inquietas e até aquele montão de gente que caminhava de um lado para outro, como formigas. Um dia, cheguei na beira da água e vi um monte de coisinhas prateadas. Fiquei curiosa. Cheguei perto e descobri que eram peixinhos, como aqueles que a gente vê nos livros e na televisão. Só que não nadavam nem se mexiam. Não sei por quê, mas naquela manhã me deu vontade de chorar e de voltar para casa.”
TEXTO 3
Um Maracanã de floresta acaba de desaparecer. Isso desde que você começou a ler este texto, há um segundo. Amanhã, neste mesmo horário, você levará a vida como sempre – esperamos. Mas os integrantes de 137 espécies de plantas, animais e insetos, não. Eles terão o destino que 50 mil espécies por ano têm: a extinção. Argumentos como “15 Maracanãs de mata tropical devastados desde o início deste parágrafo” são fortes, mas nem sempre suficientes. Só que existe outro, talvez ainda mais persuasivo: dinheiro não dá em árvore, mas árvore dá dinheiro.
Hoje, manter uma floresta em pé é negócio da China. Em uma área estratégica perto do rio Yang Tsé, o governo chinês paga US$ 450 aos fazendeiros por (15) hectare reflorestado. O objetivo é conter as enchentes que alteram o fluxo de água do rio. Equilíbrio ecológico, manutenção do ecossistema, mais espécies preservadas, esses são os objetivos do Partido Comunista Chinês? Não. Trata-se de um investimento.
O reflorestamento mantém o curso do rio estável e as árvores, sozinhas, aumentam a quantidade de chuva – as plantas liberam vapor d’água durante a fotossíntese. Resultado: mais água no Yang Tsé. O que isso tem a ver com dinheiro? A água alimenta turbinas das hidrelétricas distribuídas pelo rio – inclusive a megausina de Três Gargantas, 50% maior que Itaipu, que abriu as comportas em 2008.
Investindo em reflorestamento, os chineses agem de forma pragmática. Pagar fazendeiros = mais árvores. Mais árvores = mais água no rio. Mais água = mais energia elétrica barata (ainda mais no país que inaugura duas usinas a carvão por semana para dar conta de crescer como cresce). Mais energia barata, mais produção para a economia – e dinheiro para pagar os reflorestadores. O final dessa equação é surreal para os padrões brasileiros. A China, nação que mais polui e que mais consome matéria-prima, tem índice de desmatamento zero. Abaixo de zero, até: eles plantam mais árvores do que derrubam.
(REZENDE, Rodrigo. Revista Superinteressante, março, 2011.)
Para responder à questão, considere as afirmativas a seguir, referentes aos textos 1, 2 e 3.
I) Os textos 1 e 2 têm em comum o uso da primeira pessoa e o fato de constituírem relatos pessoais.
II) O texto 1 apresenta uma sequência de ações, enquanto o texto 2 enfatiza uma situação específica.
III) Considerando o trecho “A China, nação que mais polui e que mais consome matéria-prima” (texto 3, (15)), seria possível imaginar que o narrador do texto 1 é um chinês.
IV) O texto 1 generaliza a relação homem-natureza, enquanto o texto 3 define os espaços em que ocorre essa relação: na China e no Maracanã.
Estão corretas apenas as afirmativas