TEXTO 1

Vergonha

Será que a gente somos(01) corrupto? De nascença? Por natureza? Alguma coisa na água, ou no leite da mãe?

Em Paris, nos aconselhavam a não dizer que éramos “bresiliens”, pegava mal. (...) Devíamos dizer “du Brésil” - para não acabar dizendo “brasileiros, mas no bom sentido”. No cinema americano, é para o Brasil que vêm tradicionalmente os grandes caloteiros, pelo menos os que conseguem escapar com grana. Muito do nosso folclore é baseado no autodesprezo: somos a terra do malandro, do indolente, do encostado. (02) Somos,(04) paradoxalmente, a raça do jeito pra tudo e a raça que não tem jeito mesmo (03). Existiria,(05) no brasileiro, uma falha estrutural que frustraria todas as tentativas de reformá-lo. (...)

Não somos(06) menos morais do que os outros mas gostamos de dizer que somos. Tem algo a ver com o nosso tamanho. Nosso mar de lama não é maior que os outros, a extensão da nossa costa é que nos dá delírios de baixeza. Nossa alma amazônica não se satisfaz com pequenas falcatruas, queremos pororocas de sujeira, dilúvios de canalhice. (...)

Todas as sociedades deste lado do mundo são, de um jeito ou de outro, cleptocracias, construídas pelos mais espertos. Nas que deram certo(07) o proveito desse pioneirismo de canalhas foi distribuído, nas que continuam a dar errado só uma minoria aproveita do resultado de seus próprios crimes.

(VERÍSSIMO, L. F. Jornal Zero Hora, 4 de abril de 1991 (fragmento adaptado).)

TEXTO 2

Para(13) se(12) passar de uma situação menos humana para uma situação mais humana, quer na vida nacional quer na vida internacional, é longo o caminho a(14) percorrer, e nele se há de avançar por fases. (...)

Jamais haverá paz(15) sem uma disponibilidade para o diálogo(16) sincero e contínuo.(02)(17) A verdade(04) desenvolve-se,(12) também ela,(01) no diálogo(08)(16) e, por outro lado, fortifica este meio(03) indispensável para a paz. A verdade também não tem receio dos entendimentos honestos,(06) porque traz consigo as luzes(10) que permitem comprometer-se neles,(05) sem ter de sacrificar convicções(11) – e valores essenciais. A verdade aproxima de si os espíritos; faz ver aquilo(07) que já une as partes até então opostas umas às outras;(09) faz retroceder as desconfianças de ontem e prepara terreno para novos progressos na justiça e na fraternidade, na coabitação pacífica de todos os homens. (...)

Sim, eu tenho para mim esta convicção: a (14) verdade fortifica a paz(15) a partir de dentro. E um clima de sinceridade maior há de permitir mobilizar as energias humanas para a única causa que é digna delas: o pleno respeito da verdade sobre a natureza e o destino do homem, fonte da verdadeira paz na justiça e na amizade.

(http://vatican.va.holv father/iohn paul ii/messages/peace/ documents/ (acessado em 26/4/2006))

TEXTO 3

É célebre o paradoxo do mentiroso(01) Epimênides, sacerdote de Apolo, cretense que viveu no século VI a.C., disse de seus compatriotas: “Os cretenses mentem o tempo todo”(02). Ora, se Epimênides é mais um cretense que vive dizendo mentiras...(03) nem todos os cretenses serão mentirosos. Ou,(05) talvez,(05) Epimênides seja o único cretense capaz de dizer verdades, e a verdade, então, é que todos os cretenses são sempre mentirosos, exceto Epimênides.

A verdade mesmo é que ninguém consegue ser mentiroso 24 horas por dia. Mentir cansa, e possivelmente o próprio Epimênides,(05) mentiroso renitente,(05) fez uma pausa e disse essa verdade. (...)

Mas(04) se mentir o tempo todo é impossível, dizer sempre a verdade não é nada fácil. A verdade, afirmou Platão, “é que a verdade é um alvo em que poucos acertam”.

(PERISSÉ, Gabriel. Observatório da Imprensa. http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos (acessado em 30 de abril de 2006).)

Responder à questão com base nas afirmativas sobre os três textos.

  1. I) Os textos 1 e 3 apresentam uma situação concreta para fundamentar a tese de seus respectivos autores.

  2. II) A linguagem do texto 2 distingue-o dos demais pelo tom coloquial e pela subjetividade.

  3. III) Nos textos 1 e 3, os autores utilizam o discurso alheio como recurso argumentativo.

  4. IV) Nos três textos, os autores comparam diferentes sociedades entre si.

Pela análise das afirmativas, é possível concluir que estão corretas apenas