TEXTO 3

A zona franca do pensamento

Qual é a invenção que lhe (11) deixa mais perplexo, aquela que foge à sua compreensão? Tantas (05). O avião, por exemplo. Como consegue voar aquele zepelin de aço (1), com 300 passageiros e suas respectivas bagagens provenientes de Miami? Internet: eu aqui e você em Cingapura, conversando com a um custo de eu aqui e você ali na esquina. Fax: coloco uma folha de papel num aparelhinho e ele sai reproduzido, no mesmo instante, em Guiné-Bissau (7). Televisão: uma câmera capta minha imagem e eu apareço, ao mesmo tempo, (8) num casebre do Morro da Cruz e numa mansão da Barra da Tijuca, ao vivo e em cores. Ultrassonografia. Gestação in vitro. Clonagem. Reverencio a tecnologia e hoje me arrependo de ter matado algumas aulas de física e biologia, que me ajudariam a entender melhor como funciona o mundo que me cerca. Só numa invenção pisoteio e cuspo em cima (02): no detector de mentiras. (...). Uma geringonça que se julga capaz de adivinhar o que pensamos!

O pensamento (06) é o território mais protegido do mundo, e ao mesmo tempo o mais livre. Nele cabe (07) um mundaréu de gente, todas as que conhecemos e mais aquelas que imaginamos, e delas somos seu deus e seu diabo(03). (...) O pensamento não tem fronteiras, lógica, advogado de defesa ou carrasco. É zona franca, (9) terra de ninguém.

Vivemos cercados de micro câmeras, pardais, caetanos, alarmes. Somos constantemente vigiados (10), qualquer um nos localiza, identifica, surpreende. O pensamento é o único lugar onde ainda estamos seguros, onde nossa loucura é permitida e todos os nossos atos são inocentes. Que se instale um novo mundo cibernético, mas que virem sucata (04) esses detectores de mentiras, tão sujeitos a falhas. Dentro do pensamento, não há tecnologia que consiga nos achar.

(Marta Medeiro. Zero Hora, 31/03/1999 (adaptado).)

TEXTO A

Carlos Drummond de Andrade

“Uma flor nasceu na rua! Passem de longe, bondes, ônibus, rio de [aço do tráfego. Uma flor ainda desbotada Ilude a polícia, rompe o asfalto. Façam completo silêncio, paralisem os [negócios, Garanto que uma flor nasceu. Sua cor não se percebe. Suas pétalas não se abrem. Seu nome não está nos livros. É feia. Mas é realmente uma flor. Sento-me no chão da capital do país às [cinco horas da tarde e lentamente passo a mão nessa forma [insegura. [...] Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.”

O texto A sugere que