O poema a seguir foi adaptado do livro: SONETOS DE CAMÕES: CORPUS DOS SONETOS CAMONIANOS*.
(*Edição e notas de Cleonice S. M. Berardinelli. Rio de Janeiro: Fundação Casa de Rui Barbosa,1980.)
SONETO II
O tempo acaba o ano, o mês e a hora,
A força, a arte, a manha, a fortaleza;
O tempo acaba a fama e a riqueza,
O tempo o mesmo tempo de si chora.
O tempo busca e acaba o onde mora
Qualquer ingratidão, qualquer dureza,
Mas não pode acabar minha tristeza,
Enquanto não quiserdes vós, Senhora.
O tempo o claro dia torna escuro,
E o mais ledo prazer em choro triste;
O tempo a tempestade em grã bonança.
Mas de abrandar o tempo estou seguro
O peito de diamante, onde consiste
A pena e o prazer desta esperança.
ledo − alegre
grã − grande
No soneto II, o poeta descreve o impacto da ação do tempo, destacando sua capacidade de transformar algo em seu oposto.
Essa capacidade está exemplificada no seguinte verso: