O poema a seguir foi adaptado do livro: SONETOS DE CAMÕES: CORPUS DOS SONETOS CAMONIANOS*.
(*Edição e notas de Cleonice S. M. Berardinelli. Rio de Janeiro: Fundação Casa de Rui Barbosa,1980.)
SONETO I
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.
Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem (se algum houve) as saudades.
O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E enfim converte em choro o doce canto.
E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto,
Que não se muda já como soía.
mor − maior
soía − costumava
A imagem a seguir reproduz um grafite visto em um muro em Portugal.
O grafite estabelece intertextualidade com o soneto I, que trata da mudança como fonte de desassossego para o poeta quinhentista.
Reelaborada na contemporaneidade, a mudança retratada no grafite pode ser associada ao seguinte tema, presente nos sonetos de Camões: