Física para poetas

O ensino da física sempre foi um grande desafio. Nos últimos anos, muitos esforços foram feitos

com o objetivo de ensiná-la desde as séries iniciais do ensino fundamental, no contexto do ensino

de ciências. Porém, como disciplina regular, a física aparece no ensino médio, quando se torna

“um terror” para muitos estudantes.

¹Várias pesquisas vêm tentando identificar quais são as principais dificuldades do ensino de física

e das ciências em geral. Em particular, a queixa que sempre se detecta é que ²os estudantes não

conseguem compreender a linguagem matemática na qual, muitas vezes, os conceitos físicos são

expressos. Outro ponto importante é que as questões que envolvem a física são apresentadas

fora de uma contextualização do cotidiano das pessoas, o que dificulta seu aprendizado. Por

fim, existe uma enorme carência de professores formados em física para ministrar as aulas da

disciplina.

As pessoas que vão para o ensino superior e que não são da área de ciências exatas praticamente

nunca mais têm contato com a física, da mesma maneira que os estudantes de física, engenharia

e química poucas vezes voltam a ter contato com a literatura, a história e a sociologia. É triste

notar que a ³especialização na formação dos indivíduos costuma deixá-los distantes de partes

importantes da nossa cultura, da qual as ciências físicas e as humanidades fazem parte.

Mas vamos pensar em soluções. Há alguns anos, ofereço um curso chamado “Física para poetas”.

A ideia não é original – ao contrário, é muito utilizada em diversos países e aqui mesmo no Brasil.

Seu objetivo é apresentar a física sem o uso da linguagem matemática e tentar mostrá-la próxima

ao cotidiano das pessoas. Procuro destacar a beleza dessa ciência, associando-a, por exemplo, à

poesia e à música.

Alguns dos temas que trabalho em “Física para poetas” são inspirados nos artigos que publico.

Por exemplo, “A busca pela compreensão cósmica” é uma das aulas, na qual apresento a evolução

dos modelos que temos do universo. Começando pelas visões místicas e mitológicas e chegando

até as modernas teorias cosmológicas, falo sobre a busca por responder a questões sobre a

origem do universo e, consequentemente, a nossa origem, para compreendermos o nosso lugar

no mundo e na história.

Na aula “Memórias de um carbono”, faço uma narrativa de um átomo de carbono contando

sua história, em primeira pessoa, desde seu nascimento, em uma distante estrela que morreu há

bilhões de anos, até o momento em que sai pelo nariz de uma pessoa respirando. Temas como

astronomia, biologia, evolução e química surgem ao longo dessa aula, bem como as músicas

“Átimo de pó” e “Estrela”, de Gilberto Gil, além da poesia “Psicologia de um vencido”, de Augusto dos Anjos.

Em “O tempo em nossas vidas”, apresento esse fascinante conceito que, na verdade, vai muito

além da física: está presente em áreas como a filosofia, a biologia e a psicologia. Algumas músicas

de Chico Buarque e Caetano Veloso, além de poesias de Vinicius de Moraes e Carlos Drummond

de Andrade, ajudaram nessa abordagem. Não faltou também “Tempo Rei”, de Gil.

A arte é uma forma importante do conhecimento humano. Se músicas e poesias inspiram as

mentes e os corações, podemos mostrar que a ciência, em particular a física, também é algo

inspirador e belo, capaz de criar certa poesia e encantar não somente aos físicos, mas a todos os

poetas da natureza.

(ADILSON DE OLIVEIRA. Adaptado de cienciahoje.org.br, 08/08/2016.)

O trecho do texto de Adilson de Oliveira que melhor sintetiza o problema exposto acerca da abordagem da física é: