O ENCONTRO MARCADO

Eduardo e a vida sadia. Seu Marciano tomou-se sócio do clube, o filho praticava natação.

- Por que você não joga basquete? - sugeria Letícia. - Natação é tão sem graça...

- Porque natação não depende de ninguém, só de mim.

Em seis meses era o melhor nadador de sua categoria, e ameaçava já o recorde dos adultos. Uma espécie diferente de emoção - a de poder contar consigo mesmo, e de se saber, numa competição, antecipadamente vencedor. Os entendidos sacudiam a cabeça, admirados:

- Quem diria, esse menino...

Era uma espécie de êxtase: fazer de simples prova de natação, a que ninguém o obrigava, uma disputa em que parecia empenhar o destino, fazer da arrancada final uma luta contra o cansaço, em que a vida parecia querer prolongar-se além de si mesma (1).

Dia de competição. As luzes da piscina acesas, as arquibancadas cheias. Ambiente de expectativa, medo, alegria, excitação. Alto-falantes comandando ordens, convocando nadadores, apostas, previsões, torcida, gritaria. Nada da paz quase bucólica da piscina nos dias de treino - o rigor e a monotonia dos exercícios, de manhã e de tarde, o longo, lento e meticuloso esforço durante meses e meses, para ganhar décimos de segundo na luta contra o cronômetro. Refugiado no vestiário, enrolado em cobertor, Eduardo aguardava o momento de sua prova, ouvindo, lá fora, os aplausos da multidão. Logo chegaria a sua vez. Chico, o roupeiro, aparecia para dar-lhe a notícia da competição.

- Estamos ganhando. Daqui a pouco é você.

(...) Sua emoção se traduzia em longos bocejos, o medo era quase náusea, a expectativa era uma ilusória, persistente e irresistível vontade de urinar. A multidão voltava a aplaudir, lá fora. - "Daqui a pouco é você". Nunca saía do vestiário antes da hora de nadar (2).

- Quanto está a água hoje? - perguntava ao roupeiro.

Era o único nadador que não interrompia os treinos no inverno, sozinho, a água gelada, a piscina fechada aos sócios. (...) Nadar era difícil, ficava cada vez mais difícil... Onde quer que surgisse um recordista, logo surgia outro para abaixar-lhe o recorde. (...)

- Marciano, a sua vez! - vinham lhe avisar.

Nada a fazer. Ali estava ele, pronto para o sacrifício, convocado como um condenado para a execução. Ia seguindo em direção à mesa dos juízes, para assinar a súmula, sem olhar para os lados (3). Sentia que todos os olhos o seguiam, ouvia vagamente os aplausos, procurava ignorar tudo, concentrar-se. Vontade de dormir, de desistir, fugir, sair correndo, esquecer aquele suplício. Medo. Os outros também se sentiriam assim, fragilizados pela emoção, sucumbidos pela espera? Munira-se de alguns minutos de descanso e solidão, curtidos em agonia no vestiário - era a sua reserva. Ali fora, os nervos se esbandalhariam ante o que o aguardava - que viesse imediatamente.

- Mostra a essa gente, Eduardo.

- É pra valer!

- Capricha, menino.

- Está bem, está bem...

Deslumbrado pela luz dos refletores, desprotegido e nu, ia caminhando para o sacrifício.

(Fernando Sabino. O encontro marcado. Rio de Janeiro: Record, 2012.)

Era uma espécie de êxtase: fazer de simples prova de natação, a que ninguém o obrigava, uma disputa em que parecia empenhar o destino, fazer da arrancada final uma luta contra o cansaço, em que a vida parecia querer prolongar-se além de si mesma. (1)

Reescreva as duas orações subordinadas adjetivas sublinhadas, fazendo uso da expressão "a qual", de acordo com a norma-padrão.