O FUTURO ERA LINDO

A informação seria livre, Todo o saber do mundo seria compartilhado, bem como a música, o cinema, a literatura e a ciência, O custo seria zero, O espaço seria infinito, A velocidade, estonteante, A solidariedade e a colaboração seriam os valores supremos, A criatividade, o único poder verdadeiro, O bem triunfaria sobre os males do capitalismo, O sistema de representação se tornaria obsoleto, Todos os seres humanos teriam oportunidades iguais em qualquer lugar do planeta, Todos seriam empreendedores e inventivos, Todos poderiam se expressar livremente, Censura, nunca mais, As fronteiras deixariam de existir, As distâncias se tornariam irrelevantes, O inimaginável seria possível, O sonho, qualquer sonho, poderia se tornar realidade,

Livre, grátis, inovador, coletivo, palavras-chave do novo mundo que a internet inaugurou 1, Por anos esquecemos que a internet foi uma invenção militar, criada para manter o poder de quem já o tinha, Por anos fingimos que transformar produtos físicos em produtos virtuais era algo ecologicamente correto, esquecendo que a fabricação de computadores e celulares, com a obsolescência embutida em seu DNA, demanda o consumo de quantidades vexatórias de combustíveis fósseis, de produtos químicos e de água, sem falar no volume assombroso de lixo não reciclado em que resultam, incluindo lixo tóxico,

Ninguém imaginou 3 que o poder e o dinheiro se tornariam tão concentrados em megahipercorporações norte-americanas como o Google, que iriam destruir para sempre tantas indústrias e atividades 2 em tão pouco tempo, Ninguém previu 4 que os mesmos Estados Unidos, graças às maravilhas da internet sempre tão aberta e juvenil, se consolidariam como 20 os maiores espiões do mundo, humilhando potências como a Alemanha e também o Brasil, impondo os métodos de sua inteligência militar sobre a população mundial, e guiando ao arrepio da justiça os bebês engenheiros nota dez em matemática mas ignorantes completos em matéria de ética, política e em boas maneiras,

Ninguém previu a febre das notícias inventadas, a civilização de perfis falsos, as enxurradas de vírus, os arrastões de números de cartão de crédito, a empulhação dos resultados numéricos falseados por robôs ou gerados por trabalhadores mal pagos em países do terceiro mundo, o fim da privacidade, o terrorismo eletrônico, inclusive de Estado,

(Marion Strecker). Adaptado de Folha de São Paulo, 29/07/2014.)

O termo megahipercorporações é formado por um processo que enfatiza o tamanho e o poder das corporações econômicas atuais.

Essa ênfase é produzida pelo emprego de: