Igual-Desigual
Eu desconfiava:
todas as histórias em quadrinho são iguais.
Todos os filmes norte-americanos são iguais.
Todos os filmes de todos os países são iguais.
Todos os best-sellers são iguais
Todos os campeonatos nacionais e internacionais de futebol são
iguais.
Todos os partidos políticos
são iguais.
Todas as mulheres que andam na moda
são iguais.
Todas as experiências de sexo
são iguais.
Todos os sonetos, gazéis, virelais, sextinas e rondós são iguais
e todos, todos
os poemas em verso livre são enfadonhamente iguais.
Todas as guerras do mundo são iguais.
Todas as fomes são iguais.
Todos os amores, iguais iguais iguais.
Iguais todos os rompimentos.
A morte é igualíssima.
Todas as criações da natureza são iguais.
Todas as ações, cruéis, piedosas ou indiferentes, são iguais.
Contudo, o homem não é igual a nenhum outro homem, bicho ou coisa.
Ninguém é igual a ninguém.
Todo ser humano é um estranho
ímpar.
(Carlos Drummond De Andrade. Nova reunião: 19 livros de poesia. Rio de Janeiro: José Olympio, 1985.)
best-sellers - livros mais vendidos
gazéis, virelais, sextinas, rondós - tipos de poema
Todo ser humano é um estranho
ímpar. (v. 26-27)
No contexto, a associação dos adjetivos estranho e ímpar sugere que cada ser humano não se conhece completamente.
Isto acontece porque cada indivíduo pode ser caracterizado como: