(...)

Atrás de portas fechadas,

à luz de velas acesas,

entre sigilo e espionagem,

acontece a Inconfidência.

(...)

LIBERDADE, AINDA QUE TARDE,

ouve-se em redor da mesa.

E a bandeira já está viva,

e sobe, na noite imensa.

E os seus tristes inventores

já são réus – pois se atreveram

a falar em Liberdade

(que ninguém sabe o que seja).

Através de grossas portas,

sentem-se luzes acesas,

– e há indagações minuciosas

dentro das casas fronteiras.

“Que estão fazendo, tão tarde?

Que escrevem, conversam, pensam?

Mostram livros proibidos?

Leem notícias nas Gazetas?

Terão recebido cartas

de potências estrangeiras?”

(...)

Ó vitórias, festas, flores

das lutas da Independência!

Liberdade – essa palavra

que o sonho humano alimenta:

que não há ninguém que explique,

e ninguém que não entenda!

(...)

(MEIRELES, Cecília. Romanceiro da Inconfidência. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1989.)

O poema de Cecília Meireles enfoca um momento específico de tensão política e de oposição aos poderes estabelecidos na história do Brasil.

Os únicos versos que não apresentam explicitamente essa referência histórica estão transcritos na seguinte alternativa: