(01) Escrever é um ato não natural. A palavra falada é mais velha
(02) do que nossa espécie, e o instinto para a linguagem permite que as
(03) crianças engatem em conversas articuladas anos antes de entrar
(04) numa escola. Mas a palavra escrita é uma invenção recente que não
(05) deixou marcas em nosso genoma e precisa ser adquirida mediante
(06) esforço ao longo da infância e depois.
(07) A fala e a escrita diferem em seus mecanismos, é claro, e essa é
(08) uma das razões pelas quais as crianças precisam lutar com a escrita:
(09) reproduzir os sons da língua com um lápis ou com o teclado requer
(10) prática. Mas a fala e a escrita diferem também de outra maneira,
(11) o que faz da aquisição da escrita um desafio para toda uma vida,
(12) mesmo depois que seu funcionamento foi dominado. Falar e escrever
(13) envolvem tipos diferentes de relacionamentos humanos, e somente
(14) o que diz respeito à fala nos chega naturalmente. A conversação
(15) falada é instintiva porque a interação social é instintiva: falamos às
(16) pessoas “com quem temos diálogo”. Quando começamos um diálogo
(17) com nossos interlocutores, temos uma suposição do que já sabem
(18) e do que poderiam estar interessados em aprender, e durante a
(19) conversa monitoramos seus olhares, expressões faciais e atitudes
(20) Se eles precisam de esclarecimentos, ou não conseguem aceitar uma
(21) afirmação, ou têm algo a acrescentar, podem interromper ou replicar.
(22) Não gozamos dessa troca de feedbacks quando lançamos ao
(23) vento um texto. Os destinatários são invisíveis e imperscrutáveis, e
(24) temos que chegar até eles sem conhecê-los bem ou sem ver suas
(25) reações. No momento em que escrevemos, o leitor existe somente
(26) em nossa imaginação. Escrever é, antes de tudo, um ato de faz
(27) de conta. Temos de nos imaginar em algum tipo de conversa, ou
(28) correspondência, ou discurso, ou solilóquio, e colocar palavras na
(29) boca do pequeno avatar que nos representa nesse mundo simulado.
Adaptado de Steven Pinker, Guia de Escrita.
Assinale a alternativa com fragmento textual que mais se assemelha ao texto quanto à forma e ao modo de apresentação do conteúdo.