Mar (fragmento)

(01) A primeira vez que vi o mar eu não estava sozinho. Estava no meio

(02) de um bando enorme de meninos. Nós tínhamos viajado para ver o

(03) mar. No meio de nós havia apenas um menino que já o tinha visto. Ele

(04) nos contava que havia três espécies de mar: o mar mesmo, a maré,

(05) que é menor que o mar, e a marola, que é menor que a maré. Logo

(06) a gente fazia ideia de um lago enorme e duas lagoas. Mas o menino

(07) explicava que não. O mar entrava pela maré e a maré entrava pela

(08) marola. A marola vinha e voltava. A maré enchia e vazava. O mar

(09) às vezes tinha espuma e às vezes não tinha. Isso perturbava ainda

(10) mais a imagem. Três lagoas mexendo, esvaziando e enchendo, com

(11) uns rios no meio, às vezes uma porção de espumas, tudo isso muito

(12) salgado, azul, com ventos.

Rubem Braga

Mar Português

(01) Ó mar salgado, quanto do teu sal

(02) São lágrimas de Portugal!

(03) Por te cruzarmos, quantas mães choraram,

(04) Quantos filhos em vão rezaram!

(05) Quantas noivas ficaram por casar

(06) Para que fosses nosso, ó mar!

(07) Valeu a pena? Tudo vale a pena

(08) Se a alma não é pequena.

(09) Quem quer passar além do Bojador

(10) Tem que passar além da dor.

(11) Deus ao mar o perigo e o abismo deu,

(12) Mas nele é que espelhou o céu.

Fernando Pessoa

Ondas do mar de Vigo

(01) Ondas do mar de Vigo,

(02) se vistes meu amigo?

(03) e ai Deus, se verrá cedo?

(04) Ondas do mar levado,

(05) se vistes meu amado?

(06) e ai Deus, se verrá cedo?

(07) Se vistes meu amigo,

(08) o por que eu sospiro?

(09) e ai Deus, se verrá cedo?

(10) Se vistes meu amado,

(11) o por que hei gram coidado?

(12) e ai Deus, se verrá cedo?

Obs.:verrá: virá

Martim Codax

Pode-se afirmar que pertence ao mesmo tipo de poema trovadoresco de “Ondas do mar de Vigo” APENAS a alternativa: