Diário de bordo Ontem, o tempo mudou, o navio balançou um pouco [...]. Acordei às 9h (6), tomei café na suíte e voltei a dormir, até o meio-dia - acho que nunca fiz isso na vida. Almoçamos no restaurante, evitando o self-service, que devia estar uma bagunça, pois (7) continua chovendo e ventando, os passageiros sem muito o que fazer a não ser enfrentar a comida que rola sem parar.
Depois do almoço [...] apesar do vento e da chuva fininha, consegui ver a passagem pelo Peloponeso, a guerra de Tucídides e, logo após, a ilha de Ítaca, onde Penélope fiava e confiava em Ulisses (1), que retornaria de sua viagem absurda.
Penso no valor da palavra escrita. Ítaca, Peloponeso, toda a Grécia clássica, nada seriam se não fossem os poemas e relatos que historicizaram seus heróis, seus deuses, suas tragédias e seus filósofos.
O mesmo (8) aconteceu com os judeus, que viveram numa terra de pedras (4) e desertos, mas deixaram livros que formaram o Velho Testamento, base de toda a cultura ocidental.
Nas ilhas Papuas ou na América (5), onde floresceram civilizações como a asteca, a inca e a maia, na certa haveria heróis, deuses, guerreiros e pensadores que ficaram isolados do fluxo cultural, sem testemunhos escritos que superassem o tempo.
Gregos e judeus nos legaram (2) palavras escritas que permaneceram e formaram o imaginário (9) do Ocidente. Olhando-se, agora, a mesma paisagem, o cenário dos deuses e heróis, nada de espetacular ou de notável aqui teria se passado (3) se não fossem os textos que nos chegaram, que foram estudados, interpretados, parafraseados e adaptados de acordo com as sucessivas camadas do tempo e da civilização.
(Carlos Heitor Cony)
É correto afirmar que o objetivo principal do texto é