O excerto abaixo foi extraído do poema Ode no Cinquentenário do Poeta Brasileiro, de Carlos Drummond de Andrade, que homenageia o também poeta Manuel Bandeira.

(...) Por isso sofremos: pela mensagem que nos confias

entre ônibus, abafada pelo pregão dos jornais e mil queixas operárias;

essa insistente mas discreta mensagem

que, aos cinquenta anos, poeta, nos trazes;

e essa fidelidade a ti mesmo com que nos apareces

sem uma queixa no rosto entretanto experiente,

mão firme estendida para o aperto fraterno

— o poeta acima da guerra e do ódio entre os homens -,

— o poeta ainda capaz de amar Esmeralda embora a alma anoiteça,

o poeta melhor que nós todos, o poeta mais forte

— mas haverá lugar para a poesia?

Efetivamente o poeta Rimbaud fartou-se de escrever,

o poeta Maiakovski suicidou-se,

o poeta Schmidt abastece de água o Distrito Federal...

Em meio a palavras melancólicas,

ouve-se o surdo rumor de combates longínquos

(cada vez mais perto, mais, daqui a pouco dentro de nós).

E enquanto homens suspiram, combatem ou simplesmente ganham dinheiro,

ninguém percebe que o poeta faz cinquenta anos,

que o poeta permaneceu o mesmo, embora alguma coisa de extraordinário se houvesse passado,

alguma coisa encoberta de nós, que nem os olhos traíram nem as mãos apalparam,

susto, emoção, enternecimento,

desejo de dizer: Emanuel, disfarçado na meiguice elástica dos abraços,

e uma confiança maior no poeta e um pedido lancinante para que não nos deixe sozinhos nesta cidade

em que nos sentimos pequenos à espera dos maiores acontecimentos. (...)

(Carlos Drummond de Andrade, Sentimento do mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 2012, p. 49.)

  1. A) O que, no poema, leva o eu lírico a perguntar: “mas haverá lugar para a poesia?”

  2. B) É possível afirmar que a figura de Manuel Bandeira, evocada pelo poeta, se contrapõe ao sentimento de pessimismo expresso no poema e no livro Sentimento do mundo. Explique por quê.