O excerto abaixo foi extraído do poema Balada Feroz, de Vinícius de Moraes.

(...) Lança o teu poema inocente sobre o rio venéreo engolindo as cidades Sobre os casebres onde os escorpiões se matam à visão dos amores miseráveis Deita a tua alma sobre a podridão das latrinas e das fossas Por onde passou a miséria da condição dos escravos e dos gênios. (...)

Amarra-te aos pés das garças e solta-as para que te levem

E quando a decomposição dos campos de guerra te ferir as narinas, lança-te sobre a cidade mortuária Cava a terra por entre as tumefações e se encontrares um velho canhão soterrado, volta E vem atirar sobre as borboletas cintilando cores que comem as fezes verdes das estradas.

(...)

Suga aos cínicos o cinismo, aos covardes o medo, aos avaros o ouro E para que apodreçam como porcos, injeta-os de pureza!

E com todo esse pus, faz um poema puro E deixa-o ir, armado cavaleiro, pela vida E ri e canta dos que pasmados o abrigarem E dos que por medo dele te derem em troca a mulher e o pão.

Canta! canta, porque cantar é a missão do poeta

E dança, porque dançar é o destino da pureza

Faz para os cemitérios e para os lares o teu grande gesto obsceno

Carne morta ou carne viva - toma! Agora falo eu que sou um!

(Vinícius de Moraes, Antologia Poética. São Paulo: Companhia das Letras, 2009, p. 51-53.)

  1. a) Como é próprio do modernismo poético, os versos acima contrariam a linguagem mais depurada e as imagens mais elevadas da lírica tradicional. Como podemos definir as imagens predominantes em Balada feroz? A que se referem tais imagens?

  2. b) Qual é o papel da poesia e do poeta diante da realidade representada?