No poema abaixo, Alberto Caeiro compara o trabalho do poeta com o do carpinteiro:

XXXVI

E há poetas que são artistas

E trabalham nos seus versos

Como um carpinteiro nas tábuas! ...

Que triste não saber florir!

Ter que pôr verso sobre verso, como quem constrói um

muro

E ver se está bem, e tirar se não está! ...

Quando a única casa artística é a Terra toda

Que varia e está sempre bem e é sempre a mesma

Penso nisto, não como quem pensa, mas como

quem respira,

E olho para as flores e sorrio...

Não sei se elas me compreendem

Nem se eu as compreendo a elas,

Mas sei que a verdade está nelas e em mim

E na nossa comum divindade

De nos deixarmos ir e viver pela Terra

E levar ao colo pelas Estações contentes

E deixar que o vento cante para adormecermos

E não termos sonhos no nosso sono.

(Poemas completos de Alberto Caeiro, em Fernando Pessoa. Obra poética. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1983, p. 156.)

  1. a) Por que tal comparação é feita? Por que ela é rejeitada pelo eu lírico na segunda estrofe do poema?

  2. b) Identifique duas características próprias da visão de mundo de Alberto Caeiro presentes na terceira estrofe. Justifique sua resposta.