Um chamado João

João era fabulista?

fabuloso?

fábula?

Sertão místico disparando

no exílio da linguagem comum?

Projetava na gravatinha

a quinta face das coisas

inenarrável narrada?

Um estranho chamado João

para disfarçar, para farçar

o que não ousamos compreender?

(...)

civilmente mágico, apelador

de precipites prodígios acudindo

a chamado geral?

(...)

Ficamos sem saber o que era João

e se João existiu

deve pegar.

(Carlos Drummond de Andrade, em Correio da Manhã, 22/11/1967, publicado em Rosa, J. G. Sagarana. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.)

Na segunda estrofe, há dois processos muito interessantes de associação de palavras. Em “inenarrável/narrada” encontramos claramente um processo de derivação. Em “disfarçar/farçar”, temos a sugestão de um processo semelhante, embora ’farçar’ não conste dos dicionários modernos.

  1. a) Relacione o significado de ’inenarrável’ com o processo de sua formação; e o de ’farçar’, na relação sugerida no poema, com ’disfarçar’.

  2. b) Explique como esses processos contribuem na construção dos sentidos dessa estrofe.