Os versos abaixo pertencem a O guardador de rebanhos:

O que nós vemos das coisas são as coisas.

Por que veríamos nós uma coisa se houvesse outra?

Por que é que ver e ouvir seriam iludirmo-nos

Se ver e ouvir são ver e ouvir?

O essencial é saber ver,

Saber ver sem estar a pensar,

Saber ver quando se vê,

E nem pensar quando se vê

Nem ver quando se pensa.

Mas isso (tristes de nós que trazemos a alma vestida!),

Isso exige um estudo profundo,

Uma aprendizagem de desaprender

E uma sequestração na liberdade daquele convento

De que os poetas dizem que as estrelas são as freiras eternas

E as flores as penitentes convictas de um só dia,

Mas onde afinal as estrelas não são senão estrelas

Nem as flores senão flores,

Sendo por isso que lhes chamamos estrelas e flores.

(Alberto Caeiro, O guardador de rebanhos, em Fernando Pessoa, Obra poética. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1983, p.151-152.)

  1. a) Um dos principais recursos retóricos empregados na poesia de Alberto Caeiro é a tautologia. Identifique um exemplo desse recurso e explique como se relaciona com a visão de mundo de Alberto Caeiro.

  2. b) Qual o sentido da metáfora empregada entre parênteses?

  3. c) Explique o sentido do paradoxo presente no 3. verso da 3. estrofe.