Leia o poema abaixo de António Osório:

Ignição

Meus versos, desejo-vos na rua,

nas padiolas, pelo chão, encardidos

como quem ganha com eles a vida,

e o papel vá escurecendo ao sol,

a chuva o manche, a capa

ganhe dedadas, a companhia

aderente de um insecto,

as palavras se humildem mais

e chegue a sua vez de comoverem alguém

que compre, um faminto ajudando.

Meus versos, desejo-vos nas bibliotecas

itinerantes, gostaríeis de viajar

por aldeias, praias, escolas primárias,

despertar o rápido olhar das crianças,

estar nas suas mãos

completamente indefeso

e, sobretudo, que não vos compreendam.

Oxalá escrevam, risquem, atirem no recreio

umas às outras como pelas* os livros

e sonhem, se possível, com algum verso

que súbito se esgueire pela sua alma.

* pélas: bolas

  1. a) A quem o eu lírico se dirige no início de cada estrofe?

  2. b) No início da segunda estrofe, que reações contraditórias ele espera das crianças?

  3. c) Ao final da segunda estrofe, que desejo ele manifesta a respeito do futuro da poesia?