Os dois poemas que se seguem, do poeta mineiro Murilo Mendes (1901-1975), datam de sua fase modernista inicial.

Os dois lados

Deste lado tem meu corpo

tem o sonho

tem a minha namorada na janela

tem as ruas gritando de luzes e movimentos

tem meu amor tão lento

tem o mundo batendo na minha memória

tem o caminho para o trabalho

Do outro lado tem outras vidas vivendo da minha vida

tem pensamentos sérios me esperando na sala de visita

tem minha noiva definitiva me esperando com flores na mão

tem a morte, as colunas da ordem e da desordem

Amostra da poesia local

Tenho duas rosas na face,

Nenhuma no coração.

No lado esquerdo da face

Costuma também dar alface,

No lado direito não.

  1. a) Embora, em “Os dois lados”, o autor relacione divisões conflituosas do eu lírico a uma separação entre o “lado de cá” e o “outro lado”, essa separação não é absoluta. Nos três primeiros versos de cada estrofe, localize elementos que reforcem a dualidade espacial e outros que a atenuem.

  2. b) O que “Amostra da poesia local” tem em comum com “Os dois lados”? Em que aspectos os dois poemas divergem?

  3. c) Quais os recursos formais (estilo, métrica) que aparecem exclusivamente no segundo poema?