O poema abaixo tem como referência uma cantiga tradicional muito conhecida que diz:

O anel que tu me deste

Era vidro e se quebrou

O amor que tu me tinhas

Era pouco e se acabou.

Leia-o com atenção:

CANTIGA

“O anel que tu me deste”[...]

Onde os anéis, onde os dedos

das estrelas neblinadas

Onde os caminhos das luas

descambando em madrugadas

Onde os sonhos que juntamos

nas mesmas águas pisadas

Onde o amor que de tão grande

( no cair da trovoada )

sorria tão manso manso

como os olhos da boiada?

Me vejo: este anel partido

arcoflexa sem sentido

ontem nos dedos da mão

hoje punhal solidão

que fere as cores da pele

sem gemido, sem um não

traçando um lugar vazio

na palma de cada mão

Arrastado amor antigo

desmanchado do contigo

desfibrado do comigo

quebrado na encantação

Aquele anel que de vidro

no abstrato se mudou

sumiu das fibras dos dedos

do círculo em que se fechou

Naquele anel que me deste

no vidro em que se quebrou

foi-se o amor que tu me davas

que era nada, se acabou

( Zila Mamede )

  1. a) Há um conjunto de expressões, na primeira estrofe, sugerindo que o amor aí referido tem um contorno vago, mais de penumbra do que de luminosa claridade, mais de tranquilidade do que de agitação. Cite pelo menos duas dessas expressões.

  2. b) O caráter suave do amor, que aparece na primeira estrofe, está contrastado, na segunda, por expressões que indicam de modo agudo o sentimento decorrente de sua ruptura. Cite pelo menos duas dessas expressões e relacione-as (por oposição ou não) com os três últimos versos da mesma estrofe.

  3. c) Explique o verso “quebrado na encantação”, relacionando-o não só com o poema todo, mas também com a cantiga original.