Os trechos abaixo, do romance Madame Pommery, referem-se a duas personagens importantes não só do ponto de vista de sua participação na trama, como também do ponto de vista de sua presença no quadro social de São Paulo no início deste século.

I. Uma centena de páginas adiante, vemos Pinto Gouveia, coronel e capitalista, desalojado do Paradis com uma enorme conta a liquidar de 12.914$400! ... E entretanto, o fato, embora muito sabido, passou com algumas risadas maliciosas como cousa permitida, natural e costumeira...

II. Com esta sublimação de ideais, a vida de Justiniano discorria tranquila e ignorada, mas augusta, como esses trabalhos tão portentosos como invisíveis da natureza, na vegetação dos polipos, das esponjas, e dos zoófitos em geral. Mas não se vá imaginar, por isso, que era uma vida toda ela na sombra e nas profundidades. Tinha os seus dias de florir e aparecer à luz, com pompa e solenidade. Justiniano florescia e Justiniano se ostentava, nos dias de procissão e de festas nacionais.

Sair de opa e de estandarte na procissão de Corpus Christi, envergar a sobrecasaca, pôr cartola e cumprimentar o Presidente no dia 15 de Novembro, eram os acontecimentos mais festivos, as grandes funçanatas de toda a sua existência. Afora isso, novenas, missas, sermões uma vez por outra, o Raposo Botelho, o Jornal do Commercio e o Mensageiro Episcopal, enchiam-lhe o mais dos ócios que lhe deixavam a revisão e os lançamentos. E ainda lhe sobrava tempo de pensar na aposentadoria; e não só tempo, ao que parece, pois ia à Caixa Econômica uma vez por mês com exemplar pontualidade, e em seguida ao pagamento...

  1. a) Faça uma comparação entre ambas as personagens, Pinto Gouveia e Justiniano, quanto a sua participação nos projetos de Madame Pommery.

  2. b) Aponte, no segundo trecho, expressões que demonstrem como o narrador descreve Justiniano como metódico, religioso e patriota. Considerando o destino dessa mesma personagem, explique por que essa descrição é, na verdade, irônica.