Hoje os conhecimentos se estruturam de modo fragmentado, separado, compartimentado nas disciplinas. Essa situação impede uma visão global, uma visão fundamental e uma visão complexa. "Complexidade" vem da palavra latina complexus, que significa a compreensão dos elementos no seu conjunto. As disciplinas costumam excluir tudo o que se encontra fora do seu campo de especialização. A literatura, no entanto, é uma área que se situa na inclusão de todas as dimensões humanas. Nada do humano lhe é estranho, estrangeiro. A literatura e o teatro são desenvolvidos como meios de expressão, meios de conhecimento, meios de compreensão da complexidade humana. Assim, podemos ver o primeiro modo de inclusão da literatura: a inclusão da complexidade humana. E vamos ver ainda outras inclusões: a inclusão da personalidade humana, a inclusão da subjetividade humana ’,, e, também,. muito importante, a inclusão; do estrangeiro, do marginalizado, do infeliz, de todos que ignoramos e desprezamos na vida cotidiana. A inclusão da complexidade humana é necessária porque recebemos uma visão mutilada do humano. Essa visão, a de homo sapiens, é uma definição do homem pela razão; de homo faber, do homem como trabalhador; de homo economicus, movido por lucros econômicos. Em resumo, trata-se de uma visão prosaica, mutilada, que esquece o principal: a relação do sapiens/demens, da razão com a demência, com a loucura. Na literatura, encontra-se a inclusão dos problemas humanos mais terríveis, coisas insuportáveis que nela se tornam suportáveis. Harold Bloom escreve: "Todas as grandes obras revelam a universalidade humana através de destinos singulares, de situações singulares, de épocas singulares". É essa a razão por que as obras-primas atravessam séculos, sociedades e nações. Agora chegamos à parte mais humana da inclusão: a inclusão do outro para a compreensão humana. A compreensão nos torna mais generosos com relação ao outro, e o criminoso não é unicamente mais visto como criminoso, como o Raskolnikov de Dostoievsky, como o Padrinho de Copolla. A literatura, o teatro e o cinema são os melhores meios de compreensão e de inclusão do outro. Mas a compreensão se torna provisória, esquecemo-nos depois da leitura, da peça e do filme. Então essa compreensão é que deveria ser introduzida e desenvolvida em nossa vida pessoal e social, porque serviria para melhorar as relações humanas, para melhorar a vida social.

(Adaptado de: MORIN, Edgar. A inclusão: verdade da literatura. In: RÕSING, Tânia et ai. Edgar Morin: religando fronteiras. Passo Fundo: UPF, 2004. p.13-1)

Considere as seguintes afirmações sobre os sentidos de passagens no texto.

  1. I. A passagem entre aspas (1. 40-43) atesta, no texto, a presença de uma citação em discurso indireto.

  2. II. As expressões grandes obras (I. 40-41) e obras-primas (1. 44) estão referencialmente relacionadas.

  3. III. A passagem como o Raskolnikov de Dostoievsky, como o Padrinho de Copolla (I. 51-52) atesta a presença de personagens criminosos na literatura, em torno da qual o autor defende a necessidade de se compreender a criminalidade na sociedade.

Quais estão corretas?