Leia o poema abaixo.
Que lembrança darei ao país que me deu tudo que lembro e sei, tudo quanto senti? Na noite do sem-fim, breve o tempo esqueceu minha incerta medalha, e a meu nome se ri.
E mereço esperar mais do que os outros, eu? Tu não me enganas, mundo, e não te engano a ti.
Esses monstros atuais, não os cativa Orfeu, a vagar, taciturno, entre o talvez e o se.
Não deixarei de mim nenhum canto radioso, uma voz matinal palpitando na bruma e que arranque de alguém seu mais secreto espinho.
De tudo quanto foi meu passo caprichoso na vida, restará, pois o resto se esfuma, uma pedra que havia em meio do caminho.
Considere as seguintes afirmações sobre o poema.
I. - No primeiro quarteto, o poeta pergunta pelo legado que deixará para o país a que deve tudo o quelhe é caro; no segundo quarteto, há uma invocação um tanto irônica do mundo, não se trata maisapenas do país: há uma ampliação da referência que atravessaria os limites geográficos para lidarcom o mundo/realidade.
II. - A forma soneto e a referência a Orfeu, o mitológico poeta grego capaz de encantar a todos como som da sua lira, revelam que o modernismo de Drummond agora se associa com oparnasianismo, o que permite ao poeta reivindicar uma posição fixa na tradição, em contraste com Orfeu, perplexo entre o talvez e o se.
III. - No último terceto, o poeta alega que, da sua trajetória um tanto instável, restará uma pedra que havia em meio do caminho, o que equivale a uma paráfrase, agora em registro formal e sério,dos versos do célebre poema do início de sua carreira modernista: No meio do caminho tinha uma pedra/ tinha uma pedra no meio do caminho (...).
Quais estão corretas?