DUAS DAS FESTAS DA MORTE
João Cabral de Melo Neto
Recepções de cerimônia que dá a morte: o morto, vestido para um ato inaugural; e ambiguamente: com a roupa do orador e a da estátua que se vai inaugurar. No caixão, meio caixão meio pedestal, o morto mais se inaugura do que morre; e duplamente: ora sua própria estátua,
ora seu próprio vivo, em dia de posse.
Piqueniques infantis que dá a morte: os enterros de criança no Nordeste: reservados a menores de treze anos, impróprios a adultos (nem o seguem). Festa meio excursão meio piquenique, ao ar livre, boa para dia sem classe; nela, as crianças brincam de boneca,
e, aliás, com uma boneca de verdade.
Considere as seguintes afirmações sobre esse poema.
I. Nas cerimônias fúnebres, a homenagem feita pelo orador assegura que a memória dos atos domorto sobreviverá entre familiares e concidadãos.
II. No Nordeste, os enterros de crianças se assemelham a festas, da quais os adultos nãoparticipam.
III. Os enterros, que parecem “meio excursão meio piquenique”, e o cadáver da criança, que seconfunde com uma boneca, caracterizam a banalização da morte infantil.
Quais estão corretas, de acordo com o poema?