Leia o poema abaixo, de Ana Cristina César.
FINAL DE UMA ODE
Acontece assim: tiro as pernas do balcão de onde via um sol de inverno se pondo no Tejo e saio de fininho dolorosamente dobradas as costas e segurando o queixo e a boca com uma das mãos. Sacudo a cabeça e o tronco incontrolavelmente, mas de maneira curta, curta, entendem? Eu estava dando gargalhadinhas e agora estou sofrendo nosso próximo falecimento, minhas gargalhadinhas evoluíram para um sofrimento meio nojento, meio ocasional, sinto um dó extremo do rato que se fere no porão, ai que outra dor súbita, ai que estranheza e que lusitano torpor me atira de braços abertos sobre as ripas do cais ou do palco ou do quartinho. Quisera dividir o corpo em heterônimos – medito aqui no chão, imóvel,
tóxico do tempo.
Considere as seguintes afirmações sobre esse poema.
I. O eu-lírico assume postura confessional, atento aos elementos desconexos do cotidiano.
II. O eu-lírico declara sentir-se fragmentado (“dividir o corpo em heterônimos”), pois percebe o ambiente que o circunda a partir de pontos de vista divergentes entre si.
III. O eu-lírico sofre e se descontrola diante de sua incapacidade para mudar os fatos que o atormentam.
Quais estão corretas?