Leia o poema Tabaréu, de Adélia Prado.

Vira e mexe eu penso é numa toada só. Fiz curso de filosofia pra escovar o pensamento, não valeu. O mais universal que eu chego é a recepção de Nossa Senhora de Fátima em Santo Antônio do Monte. Duas mil pessoas com velas louvando a Maria num oco de escuro, pedindo bom parto, moço de bom gênio pra casar, boa hora pra nascer e morrer. O cheiro do povo espiritado, isso eu entendo sem desatino. Porque, mercê de Deus, o poder que eu tenho é de fazer poesia, quando ela insiste feito água no fundo da mina, levantando morrinho de areia. É quando clareia e refresca, abre sol, chove, conforme necessidades. Às vezes dá até de escurecer de repente com trovoada e raio. Não desaponta nunca. É feito sol.
Feito amor divino.

Considere as seguintes afirmações sobre esse poema.

  1. I. O curso de filosofia tentaria organizar/escovar o pensamento, mas a poeta reconhece que sua capacidade de alcançar o “universal” é limitada: ela é capaz, sim, de entender uma cena de fé coletiva, com suas solicitações práticas e emocionadas.

  2. II. O uso do registro oral e popular (“vira e mexe”, “escovar o pensamento”, “o mais universal que eu chego”) revela a perspectiva despretensiosa e informal da poeta, que contrasta com os versos metrificados do poema, os quais mantêm, em sua maioria, o mesmo número de sílabas.

  3. III. A capacidade de escrever poesia associa-se a fenômenos naturais, como água caindo sobre areia, variação de temperatura, sol e raio, dos quais derivam as dúvidas sobre a existência de Deus enunciadas no poema.

Quais estão corretas?