Escrevendo em 1971, Pasolini dizia que o futebol é uma linguagem, e comparava jogadores italianos com escritores seus (1) contemporâneos (2), vendo analogias entre estilos e atitudes inerentes a seus “discursos” (7). Mais do que isso, falava de um futebol jogado em prosa e de outro jogado como poesia, identificando processos comuns aos campos da literatura e do esporte bretão: (12) via na prosa a vocação linear e finalista do futebol (ênfase defensiva, contra-ataque, cruzamento e finalização), e na poesia a irrupção (17) de eventos não lineares e imprevisíveis (criação de espaços, ________, autonomia dos dribles, motivação atacante congênita). Sugeria com isso (8) uma maneira de abordar o jogo por dentro, e nos dava, de quebra (13), uma chave para tratar da singularidade do futebol brasileiro.

Embora sumária, sua teoria contemplava a necessária imbricação (18) da poesia e da prosa no tecido do futebol. Pontuava suas gradações (9), passando pelo que ele via como a prosa realista de ingleses e alemães, a prosa ________ dos italianos e a poesia sul-americana. Estas seriam vias alternativas para se chegar ao delírio universal do gol, que suspende as oposições porque é necessariamente (3) um paroxismo (20) poético (4). Nada nos impede de dizer, nesta ótica (10), que os lances criativos mais surpreendentes não dispensam a prosa corrente do “arroz-com-feijão” do jogo, necessário em toda competição. (14) Ou (15) de constatar, na literatura como no futebol, que a “prosa” pode ser bela, íntegra, articulada e fluente, ou burocrática e anódina (21), e a “poesia”, imprevista, fulgurante (22) e eficaz, ou firula (23) retórica sem nervo e sem alvo.

O mote ________ foi formulado num momento de apogeu do futebol-arte, em que (11) a distinção entre a prosa e a poesia futebolísticas era de uma evidência e de uma pertinência centrais. Permanece como um modelo simples e estimulante para comentar as transformações (6) do futebol ao longo do tempo (5) - (16) e, especialmente, a insistente natureza elíptica (19) do futebol brasileiro, com sua ancestral compulsão a driblar a linearidade do esporte britânico.

(Adaptado de: WISNIK, J. M. Veneno remédio: o futebol e o Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 2008. p. 13-14.)

Considere as seguintes propostas de alterações na ordem de expressões do texto.

1 - deslocamento de seus (1) para depois de contemporâneos (2), sem modificações adicionais

2 - deslocamento de necessariamente (3) para depois de poético (4), com a colocação de uma vírgula entre estas duas palavras

3 - deslocamento de ao longo do tempo (5) para antes de as transformações (6), com a colocação de vírgulas antes e depois da expressão deslocada

Quais alterações manteriam a correção e o sentido do período?