Eu troteava, nesse tempo (1). De uma feita que viajava (6) de escoteiro, com a guaiaca (9) empanzinada (11) de onças de ouro (14), vim varar aqui neste mesmo passo, por me ficar mais perto (23) da estância onde devia (7) pousar. Parece que foi ontem! Era fevereiro; eu vinha abombado (20) da troteada (17).
Olhe, ali, à sombra daquela mesma reboleira de mato (15) que está nos vendo (2), desencilhei; e estendido nos pelegos, a cabeça no lombilho, com o chapéu sobre os olhos, fiz uma sesteada morruda (12).
Despertando, ouvindo o ruído manso da água fresca rolando sobre o pedregulho, tive ganas de me banhar; até para quebrar a lombeira... E fui- me à água que nem capincho (21)!... Depois, daquela vereda (18) andei como três léguas (3), chegando à estância cedo, obra assim de braça e meia de sol.
Ah! Esqueci de dizer-lhe (24) que andava comigo um cachorrinho brasino (4), um cusco muito esperto e boa vigia. Era das crianças, mas às vezes dava-lhe (25) para acompanhar-me, e depois de sair da porteira (10), nem por nada fazia caravolta (26), a não ser comigo.
Durante a troteada reparei que volta e meia o cusco parava na estrada e latia, e troteava sobre o rastro (16) - parecia que estava me chamando! Mas como eu não ia, ele tomava a alcançar-me, e logo recomeçava...
Pois nem lhe conto! Quando botei o pé em terra na estância (19) e já dava (8) as boas tardes ao dono da casa, aguentei um tirão seco no coração... não senti o peso da guaiaca! Tinha perdido as trezentas onças de ouro.
E logo passou-me pelos olhos um darão de cegar, depois uns coriscos (13)... depois tudo ficou cinzento... De meio assombrado me fui repondo quando ouvi que indagavam:
- Então, patrício? Está doente?
- Não senhor, não é doença; é que sucedeu-me uma desgraça (5); perdi uma dinheirama do meu patrão...
- A la fresca! (22)
- É verdade:., antes morresse que isso!
Nisto o cusco brasino deu uns pulos ao focinho do cavalo, oomo querendo lambê-lo, e logo correu para a estrada, aos latidos. E olhava- me, e vinha e ia, e tomava a latir...
(Adaptado de: Simões Lopes Neto. Trezentas onças. In: BETANCUR, P. (Org.). Obra completa de Simões Lopes Neto. Porto Alegre: Sulina, 2003. p. 307-308.)
Assinale a alternativa que melhor sintetiza o texto como um todo.