TEXTO I
A crítica religiosa de Erasmo tinha grandes afinidades com a que Lutero começou a dirigir contra Roma, a partir de 1517: denúncia das indulgências (1), defesa (7) de um Cristianismo depurado de idolatrias e superstições, volta ________ Bíblia, etc. Por isso, Lutero tentou incansavelmente obter a adesão (4) de Erasmo, mas este respondia (8) com evasões, até que, pressionado (5) pelos católicos para que definisse sua posição, escreveu contra Lutero, em 1524, um texto em que se colocava frontalmente contra um dos pontos centrais da Reforma: De Libero Arbítrio. Nesse texto, Erasmo defendia a tese da vontade livre, consumando, assim, sua ruptura pública com o protestantismo, que, pelo menos em sua versão luterana, era radicalmente determinista (2).
Lutero respondeu ________ um texto intitulado De Servo Arbítrio, em que defendia a tese de que a mera (10) hipótese de uma ação livre do homem, independente de Deus ou em cooperação com Ele, já constituía uma limitação da liberdade de Deus e uma afronta às Escrituras, que mostravam que a queda (9) condenava o homem a um saber necessariamente imperfeito e a uma razão necessariamente heterônoma (3). Para Erasmo, como para os humanistas em geral, essa doutrina era inaceitável tanto por razões puramente religiosas - pois, sem o pressuposto da liberdade, caem por terra (11) todos os preceitos morais, dirigidos a uma vontade que pode ou não aceitá-los - quanto por razões humanas. A Renascença havia instalado o homem no centro da história, e Erasmo não estava disposto a abrir mão (13) dessa conquista (14), a mais valiosa dos novos tempos. Ele não aceitava a ideia (12) agostiniana de natura deleta, da depravação congênita (6) do homem, em consequência do pecado (15) original. Para Erasmo, o homem é por natureza dotado de razão, e ela o impele à concórdia e à solidariedade. A violência, a guerra, a brutalidade são contrárias natureza razoável do homem.
(Adaptado de: ROUANET, Sérgio Paulo. Erasmo, pensador iluminista. In:__. As razões do Huminismo. São Paulo: Companhia das Letras, 1987. p. 284-285)
TEXTO II
Marina me explicou muito direitinho (1) que eu não tinha razão (4). O que tinha era falta de confiança nela. Chorou, e fiquei meio lá, meio cá, propenso (5) a acreditar que me havia enganado.
- Posso obrigar uma pessoa a não olhar para mim? Posso furar os olhos do povo (10)?
Não senhora. A coisa era diferente: Eles tinham sido pegados com a boca na botija (2), grelando (7), esquecidos do mundo. Tinham ou não tinham? Sim senhor, mas sem malícia (6).
- Posso furar os olhos do povo?
Esta frase besta (3) foi repetida muitas vezes, e, em falta de coisa melhor, aceitei-a. De fato (11), eu não tinha visto nada. As aparências mentem. A Terra não é redonda? Esta prova da inocência de Marina me pareceu considerável (13). Tantos indivíduos condenados injustamente (8) neste mundo ruim (14)! Quem pode lá jurar que isto é assim ou assado (9)? Procurei mesmo capacitar-me de que Julião Tavares não existia. Julião Tavares era uma sensação. Uma sensação desagradável, que eu pretendia afastar de minha casa quando me juntasse àquela sensação agradável que a li estava a choramingar (15).
- Pois bem, minha filha, não vale a pena falar mais nisso. Enxugue os olhos. Se você diz que não foi, não foi. Acabou-se, não se discute. Está aqui uma lembrancinha (12) que eu lhe trouxe. Vamos ver se fica bonito.
(Adaptado de: RAMOS, Graciliano. Angústia. 30. ed. São Paulo: Record, 1985. p. 86.)
Assinale a alternativa em que as três palavras ou expressões usadas por Rouanet pertencem ao registro formal e as três usadas por Graciliano pertencem ao registro coloquial.