Sendo a palavra escrita um produto da cultura, nisto, como em tudo mais, o indivíduo tem o direito de adoptar (5) a que quiser - a que lhe (16) parecer melhor ou mais conveniente (19). Isso quer dizer que, tecnicamente, ________ haver tantas ortografias quantos há escritores. Terá isso o inconveniente de, se um escritor optar (6) por uma ortografia antipática ao público, o público o não ler? Seja: o inconveniente é para ele, não para o público. Praticou um acto (7): (22) sofreu-lhe (17) ele mesmo, só ele (23), as consequências (18) intelectuais (1) e morais.

________ cuidadosamente (34) entre o dever cultural e o dever social. O meu dever cultural (30) é pensar por mim, sem obediência a outrem (2); o meu dever cultural é registrar pela (26) palavra escrita, grafando como entendo que devo, o que pensei. Assim se cria a cultura e portanto (24) a civilização. Cessa (11) aqui, porém (28), o que é puramente (35) o meu dever cultural. Com a publicação do meu escrito, estou (27) já, simultaneamente, em duas esferas - a cultural e a social: na cultural, pelo conteúdo do meu escrito; na social, pela acção (8), actual (10) ou possível, sobre o ambiente. O meu escrito contém elementos prejudiciais (3) à sociedade? Se legitimamente (36) e por mim o (29) pensei, continuo cumprindo meu dever cultural; meu dever social (31) é que, consciente (38) ou inconscientemente (37), não cumpri. São fenômenos (9) distintos (20), dependentes, um, da minha contingência; outro, da minha consciência moral (4), se a (32) tiver.

Ora (33), a ortografia é um fenômeno (12) puramente cultural: não tem aspecto (13) social algum, porque não tem aspecto social o que (25) não contém um elemento moral (ou imoral). O único efeito presumidamente (39) prejudicial que estas divergências (14) ortográficas podem ter é o de estabelecer confusão no público. Isso, porém, é da essência da cultura, que consiste (21) precisamente (40) em "estabelecer confusão" intelectual - em obrigar a pensar por meio do conflito de doutrinas religiosas, filosóficas, políticas, literárias e outras. Onde essas divergências ortográficas produziriam já um efeito prejudicial, e portanto imoral, é se o Estado admitisse (15) essa divergência em seus documentos e publicações, e, derivadamente, a consentisse nas escolas.

(Adaptado de: PESSOA, Fernando. O problema ortográfico. In: __. A língua portuguesa. São Paulo: Cia. das Letras, 1999. p. 23-25.)

Leia, abaixo, propostas de alteração no emprego de sinais de pontuação no texto.

1 - Substituir os dois pontos em (22) por ponto-e-vírgula. 2 - Suprimir as vírgulas que isolam o segmento só ele em (23). 3 - Inserir uma vírgula antes e outra depois da conjunção portanto (24). 4 - Inserir uma vírgula antes de o que em (25)

As propostas que manteriam a correção das respectivas frases são